São Paulo, sábado, 20 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vida de Madame Satã vira filme cult

SUZY CAPÓ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Está em fase de pré-produção ``Madame Satã", primeiro longa-metragem do cineasta Karim Ainouz, 29. O filme já nasce com características para virar legítimo objeto de culto.
Primeiro por trazer às telas a biografia de um dos mais famosos malandros do Rio, Madame Satã -o nome artístico pelo qual ficou conhecido o ex-escravo João Francisco dos Santos (leia nesta página). Depois porque Ainouz, nascido em Fortaleza, é um dos representantes da nova leva de diretores independentes em Nova York.
Seus curtas-metragens o levaram ao reconhecimento em festivais internacionais de cinema, como o de Roterdã, na Holanda.
Atualmente, o trabalho de Ainouz está na conceituada Bienal de Artes do museu Whitney, em Nova York (leia texto abaixo).
A partir de registros de imprensa, da Justiça e da história oral, o cineasta tenta captar o universo do submundo carioca dos anos 30. A reconstituição histórica, por sua vez, terá como base peças literárias, recortes de jornal, depoimentos, fotografias e músicas.
``Madame Satã protagonizou um momento muito importante da nossa história, quando vários aspectos culturais que são hoje apropriados como essencialmente brasileiros, como a malandragem e o samba, ainda não tinham esse caráter", explica Ainouz.
Após dez meses de pesquisa, liderada por Celina Ferraz Pinheiro e Lena Santana, Ainouz escreve o roteiro em Fortaleza, com uma verba concedida pela fundação holandesa de cinema Hubert Bals. Em seguida, o diretor viaja para a Inglaterra, onde se reúne com o produtor Johann Insanally, da Sankofa Film and Video, que vai captar recursos na Europa para o filme. Não está definido ainda quem vai produzir o filme no Brasil.
Ainda que essas participações estrangeiras possam a princípio caracterizar o trabalho como uma superprodução, Ainouz ressalta que ``Madame Satã" é ``um filme pequeno" ou de ``baixo orçamento" -até US$ 750 mil.
Também a forma da narrativa é limitada. ``Não se trata de um filme que tente passar uma mensagem sobre a história do Brasil num estilo grandioso", diz Ainouz. ``Tento contar essa história através de personagens e da interação deles no universo da Lapa."
O fio condutor da história será Satã aos 70 anos, contando a sua vida para um de seus filhos adotivos, Renato.
O filme será parcialmente rodado em um estúdio, em que será recriada a Lapa dos anos 30. Outra parte da filmagem será realizada na Ilha Grande (Estado do Rio), onde Satã também viveu. O papel de Satã ainda não está definido.

Texto Anterior: Mundo fashion se agita fora da temporada
Próximo Texto: Cineasta fez carreira em NY
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.