São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Advogado admite escuta telefônica

'Pagamos o preço de sermos éticos'

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado Clodoaldo Celentano, do grupo Philip Morris, recebeu a reportagem da Folha para uma entrevista na sede da empresa, em Santo Amaro (zona sul de São Paulo).
Indiciado, junto com outros cinco diretores da empresa, sob acusação de constrangimento, escuta telefônica ilegal e manutenção de cárcere privado, Celentano respondeu o seguinte:
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Folha - Por que a Philip Morris vem evitando se pronunciar?
Clodoaldo Celentano - Mantivemos e mantemos uma postura ética. Não fomos aos jornais para tentar influenciar juízes e advogados. Não nos interessa fazer acusações infundadas por mais razão que tenhamos. Quando dispensamos os executivos, sem demissão por justa causa, não divulgamos o fato. Eu pergunto: por que os executivos esperaram 45 dias para divulgar as acusações contra nós?
Folha - Os senhores os acusam de desviar segredos?
Celentano - Queremos manter nosso procedimento ético, embora tenhamos uma razão, fundamentada, de que eles possam ter deixado na empresa ramificações para sondar segredos industriais e de negócios. Eles conheciam trabalhos exclusivos feitos para nortear o futuro da nossa política de vendas.
Folha - Os senhores instalaram escuta?
Celentano - Sim, com autorização judicial. Isso é antiético, mas não é crime. Tínhamos que proteger nosso patrimônio do vazamento e violação de segredos. A escuta só foi instalada dentro da Q-Refresco. Tínhamos que nos proteger, os executivos tinham acesso a importantíssimos planos. Eles queriam montar uma concorrência. Não temos medo dessa concorrência. Há dez anos a Q-Refrescco é líder em sua área.
Folha - Por que a Philip Morris não divulgou que desligara seus executivos sob suspeita de espionagem?
Celentano - Preferimos pagar o preço de sermos éticos, por isso nós os despedimos em silêncio. Mas isso não aconteceu com a gente: fui intimado no Dia das Mães e não fomos ouvidos no curso do processo. Mas quero avisar: não aceitaremos abusos das autoridades.

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