São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Noite `metaleira' aproxima festival do jazz

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A predominância dos instrumentos de sopro fez da segunda noite do Nescafé & Blues a mais ``metaleira" do evento.
Roomful of Blues, Nasi e os Irmãos do Blues e Pinetop Perkins usaram gaitas, trombones, trompetes e saxofones para mostrar o quanto o blues está próximo da sofisticação jazzística das big bands.
A noite foi também dominada por instrumentistas brancos. Dos 26, divididos entre as três atrações, só Pinetop Perkins é negro.
O resultado disso é que os arranjos ensaiados prevaleceram sobre o improviso. Foi a noite em que a técnica nocauteou o instinto.
Quem saiu ganhando com essa história foi o Roomful of Blues, última atração da noite.
Os rapazes, que já estão juntos há 25 anos, compensaram a falta de cabelo com muito suingue. Mereciam casa cheia e não os cerca de 40% de assentos vagos que tiveram diante de si.
Com sua cara de personagem do filme ``Irmãos Cara-de-Pau", o vocalista Sugar Ray iniciou os trabalhos com a pulsante ``Paying The Cost To Be The Boss".
Cheios de brilho e perfeitamente sincronizados, os metais (trombone, trompete e sax-barítono) cortaram o ar como uma faca na leitura de ``Baby Please Don't Go".
Os melhores momentos do show aconteceram quando o Roomful of Blues resolveu brindar a platéia com standards do jazz.
``Walkin' Slow Behind You" ganhou uma base de acordes dissonantes nos metais e um belo solo do trombonista Carl Querfurth.
Mas a grande virada aconteceu quando o grupo interpretou ``I Left My Babe".
Apesar de o vocalista não ser um ``shouter" com pulmão capaz de rivalizar com os metais, o andamento sincopado e sexy dessa música arrebatou a platéia.
A partir dessa canção, teve início um pacto de cumplicidade entre banda e platéia. A música de um era o combustível da dança do outro e vice-versa. Foi difícil tirar os rapazes do palco.

Irmãos do Blues
Com um som completamente embolado, Nasi e os Irmãos do Blues tiveram a infelicidade de tocar na mesma noite que o Roomful of Blues. A constituição parecida tornou a comparação inevitável.
Primeiro erro: a qualidade do som. Quando se ouviam os metais, a voz sumia.
A produção poderia ter oferecido dois quilos de café solúvel para quem conseguisse reproduzir as letras das músicas. Ninguém conseguiria.
Segundo erro: verter para o português clássicos como ``Mojo Working", que acabou virando ``Meu Patuá". Exótico, para dizer o mínimo.
Acertada foi a participação de André Jung (baterista do Ira!) na percussão. Com os atabaques, ele deu um toque caribenho à música ``Poeira".

Pinetop Perkins
Acompanhado pela banda Dave Spector & The Bluebirds, o pianista Pinetop Perkins, 81, deixou a desejar.
Seu show seguiu o ritual do blues: a banda de apoio entrou, tocou três músicas e depois, com o som rolando, apresentou a ``lenda".
Seus solos se mostraram repetitivos e simplistas demais tanto no blues lento ``How Long Blues" como na jazzística ``Big Bad Mama".

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