São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Financiamento à agricultura

O impasse quanto ao financiamento da agricultura começa a encontrar uma solução. No início de abril foi derrubado na Câmara um veto presidencial à lei que favorecia os devedores do crédito rural. O governo viu-se ameaçado por um grande déficit e ordenou ao Banco do Brasil que suspendesse as novas operações. A situação oscilava entre a imposição de um custo exagerado para o Estado e a interrupção no plantio da nova safra.
O acordo a que chegaram anteontem o governo e a bancada ruralista custará aproximadamente R$ 930 milhões à União. Mas pelo menos assegura o plantio da safra de 1995/96. O gasto que o Tesouro terá é para cobrir a diferença entre o custo da captação dos recursos, feita a juros de mercado, e o retorno mais baixo dos empréstimos aos agricultores. Como as taxas de mercado estão hoje elevadíssimas, essa diferença foi alargada e o custo do apoio à agricultura é cerca de três vezes superior ao que tinha sido previsto para a safra passada.
Ainda que a necessidade de um desenlace dos nós que ameaçavam a próxima safra seja inegável, não se pode deixar de criticar o modo como se chegou a tal resultado. A bancada ruralista vinha ameaçando votar contra as propostas de reforma enviadas pelo Executivo -com as quais concordava- se não obtivesse do governo condições favoráveis para os agricultores.
Enquanto atividade de especial importância para qualquer nação e tendo de competir com produtos que em muitos países recebem fortes subsídios, é justificável que também a agricultura brasileira goze de apoio governamental. A ameaça de obstrução de outras votações de interesse do país, entretanto, é quase uma chantagem. E só deprecia a causa da agricultura.
Está prevista para a próxima semana a negociação da dívida passada. Trata-se da discussão entre governo e ruralistas sobre a taxa que corrigirá os débitos já contraídos. Qualquer que seja o resultado, espera-se que não se repita a tentativa de barganhar melhores condições para o setor usando os interesses do país como moeda de troca.

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