São Paulo, sábado, 27 de maio de 1995
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Lobby às claras

A revelação, feita por esta Folha, de que oito deputados apresentaram emendas idênticas pedindo o sigilo dos nomes dos alunos no exame pós-faculdade que o governo pretende criar evidencia a ação dos lobbies no país.
Não é exatamente uma novidade. É até natural que o amálgama de interesses dos mais diversos setores se manifeste também no Congresso Nacional, que é, afinal, o lugar onde se tomam as grandes decisões do país.
Seria absolutamente ingênuo e até contraproducente desejar que pessoas ou instituições diretamente interessados em algum projeto de lei não se manifestassem sobre suas implicações. Neste caso, o que se teria é um Congresso cego e divorciado do chamado mundo real.
Há uma diferença, porém, entre os reclamos legítimos dos mais diversos setores e o simples aliciamento. E essa diferença hoje é muito pouco nítida. A rigor, não há nada demais no fato de uma associação qualquer desejar preservar sob sigilo os nomes dos alunos no exame pós-faculdade e escrever uma emenda nesse sentido, pedindo que um deputado a apresente.
Resta saber se foi esse mesmo o processo ou se algo mais não aconteceu. Essas suspeitas apenas crescem quando três dos deputados que apresentaram as emendas insistem que são eles mesmos os autores do texto. Ou se está diante de uma das maiores coincidências do mundo ou a história não está muito bem contada. A segunda hipótese é infinitamente mais provável.
A melhor maneira de tornar mais nítida a fronteira entre o lobby legítimo e o aliciamento é regulamentar a ação dos lobistas, a exemplo do que já fazem os Estados Unidos. Fixar as regras de atuação dos lobbies, traçar os limites, colocar transparência em todo o processo pode ser um grande passo na moralização dos hábitos políticos do Brasil.
Agir às claras, sob a vigilância atenta da sociedade principalmente por meio da imprensa e dos bons parlamentares, ainda é a melhor forma de distinguir os interesses escusos dos legítimos.

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