São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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A locomotiva derrapa

CLÓVIS ROSSI

Surge o primeiro sinal de que o governo talvez esteja aplicando uma dose excessiva de anticonsumo. Os estoques de automóveis aumentaram 50% de abril para os primeiros 20 dias de maio.
Havia, em abril, estoque para atender 13 dias de vendas. No dia 20 de maio, para 20 dias de venda.
``É muito em qualquer lugar do mundo", diz Silvano Valentino, presidente da Fiat e, agora, presidente também da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Valentino diz que, na Itália, mercado que ele conhece muitíssimo bem, o normal é que os pátios de fabricantes e revendedores acumulem um estoque para 11 a 12 dias, ou seja, a metade dos dias úteis do mês.
E lembra: ``Na Europa e nos Estados Unidos, o custo do dinheiro é muito menor".
Carro parado é dinheiro parado, e, com o custo financeiro no Brasil, o dano é muito maior do que nos países desenvolvidos, em que os juros estão, pelo menos no momento, em patamares civilizados.
Silvano Valentino pede ao governo que ``administre a situação". Palavras em código para dizer que as medidas anticonsumo sucessivamente adotadas já fizeram efeito e, portanto, sua continuidade pode causar mais problemas do que resolver os existentes (o risco de explosão da inflação em consequência de um consumo superaquecido).
``A contenção do crescimento da economia é de fato necessária, mas não ao ponto de fazer o país entrar em recessão. A recessão não interessa ao Brasil", diz o presidente da Anfavea.
É sempre importante lembrar que a indústria automobilística continua sendo uma das principais locomotivas do trem da economia brasileira. Quando dá sinais de uma freada mais brusca, só se pode imaginar que os efeitos se espalhem por vários outros setores.
Há duas maneiras de se reagir ante os números esgrimidos pela Anfavea: desprezá-los, como ``choradeira" típica de empresário, ou parar para pensar um pouco. Pensar é sempre melhor, ainda que seja para concluir depois que é ``choradeira" mesmo.

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