São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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PT não acredita mais em saída negociada

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT não acredita mais em solução negociada ou em ``saída honrosa" para os petroleiros. A preocupação agora no partido é tentar recompor a unidade, que foi abalada desde que Luiz Inácio Lula da Silva tornou pública sua posição contrária à continuação do movimento.
Dentro da análise que aponta ser impossível uma saída satisfatória para os grevistas, Lula enviou ontem uma carta a Fernando Henrique Cardoso com críticas ao presidente da República.
No texto, Lula diz que há intransigência do governo para resolver o conflito e compara o comportamento de FHC no atual episódio com o adotado na anistia ao senador Humberto Lucena (PMDB-PB).
A Justiça Eleitoral cassou o registro da candidatura à reeleição de Lucena depois que foi comprovado o uso da gráfica do Senado na confecção de material promocional de Lucena.
``Por que essa mesma disposição de acatamento às decisões judiciais não ocorreu quando o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato (...), posteriormente perdoado por uma decisão imoral do Congresso, estimulada e sancionada pelo Planalto?", indaga Lula.
O dirigente petista também criticou as negociações ``benevolentes" e ``tolerantes" do governo com a bancada ruralista.
Para ele, a atitude do governo diante dos petroleiros em greve ``é uma manobra preparatória para um ataque frontal aos trabalhadores, anunciado com o projeto de desindexação dos salários e com as tentativas de desregulamentação das relações de trabalho no país".
Em entrevista, Lula admitiu que houve ``imaturidade" das duas partes.``Não houve flexibilidade do governo nem dos trabalhadores para a volta ao trabalho", disse o petista, para quem a greve no setor público tem que ser repensada.
No entender de Lula, há a necessidade de os sindicatos ``estudarem com critério" as formas de greves em setores que possam interferir diretamente no cotidiano das pessoas.
No final da entrevista, Lula deixou claro a aposta que não vê mais possibilidade de entendimento entre governo e petroleiros. ``Tem momento de endurecer e de parar (a greve) e acho que já se perdeu a oportunidade de parar", disse.
O tom duro da carta de Lula a FHC é uma satisfação aos setores de extrema esquerda do PT, que não se conformaram com declarações e gestões de Lula para terminar com a greve.
Uma parte do diretório paulista do PT divulgou nota em que, sem citar o nome de Lula, critica a posição do presidente do partido. ``Só respondo dentro da Executiva (instância de decisão do partido)", declarou Lula.
Resposta
O presidente divulgou ontem carta intitulada ``Antes de tudo, o Estado de Direito", na qual critica Lula e afirma que o governo está apenas cumprindo a lei, que determinou que a greve é abusiva.
Segundo FHC, ``após a decisão da Justiça, não cabe ao presidente de um partido, nem ao próprio Presidente da República, dizer se uma greve é justa ou injusta".
O presidente afirma ainda que ``confundir respeito às leis com prepotência é uma demonstração de falta de preparo para o exercício da democracia".

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