São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Presidente afasta militar acusado de tortura

RUI NOGUEIRA; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso exonerou ontem o adido militar da Embaixada do Brasil em Londres, coronel Armando Avólio Filho.
Ele é acusado de prática de tortura entre 1970 e 1972, durante o regime militar.
FHC decidiu exonerar o coronel sem ao menos analisar o relatório preparado pelo Exército que confirmava a veracidade das denúncias.
O presidente preferiu apenas referendar a decisão do ministro do Exército, Zenildo de Lucena, que pediu a exoneração do oficial.
Avólio vai ser substituído pelo coronel de Infantaria Urano Teixeira de Mattos Bacelar.
Ele terá antes de ser submetido a um treinamento intensivo para assumir a função.
O coronel Avólio foi nomeado para a embaixada em Londres pelo ex-presidente Itamar Franco. Assumiu o cargo em maio de 94.
Pelo esquema de rodízio, ele deveria permanecer no cargo até maio do ano que vem, quando seria substituído.
Oficialmente, o Exército afirma que a exoneração de Avólio faz parte de uma nova rotina adotada na indicação dos adidos militares.
A proposta é que a nomeação aconteça vários meses antes, para que os indicados possam se preparar, tanto na língua quanto nos assuntos internos dos países designados.
Para evitar maior desgaste no caso Avólio, o Exército resolveu exonerar também ontem outro grupo de adidos militares, argumentando que há necessidade de tempo para sua preparação.
Antes, esse prazo variava de quatro a seis meses.
Desgaste
A decisão de exonerar Avólio de imediato decorre de pressões internacionais.
O presidente disse ontem pela manhã ao ministro Zenildo que a situação do militar em Londres "era insuportável" e que sua manutenção no posto provocaria um desgaste desnecessário à imagem do país.
Além do "fator vitrine", o Brasil estava preocupado em como responder ao porta-voz do Partido Trabalhista britânico, Tony Lloyd.
Explicações
Ele enviou correspondência ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro cobrando, oficialmente, a posição do governo e o currículo de Avólio.
O Itamaraty tinha duas saídas: ou confirmava que o coronel participou de práticas de tortura quando serviu como tenente no 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, no Rio -segundo depoimentos de torturados-, ou se omitia. Preferiu a primeira.
Anistia
Além disso, o movimento Anistia Internacional pediu, no dia 22 de maio, que FHC afastasse o adido.
O grupo baseou-se na denúncia publicada pelo jornal londrino "The Guardian".
Outro lado
Procurado pela Folha, por telefone, o coronel Armando Avólio mandou um de seus assessores dizer que ele não iria se pronunciar sobre o assunto.

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