São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Cavallo acusa pressões e diz que não sai

Domingo Cavallo, ministro da Economia da Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, acusou ontem membros do governo Menem de defender a sua saída do cargo. Ele enfrenta uma das maiores crises do plano de estabilização, com o temor do mercado de que o país não pague em dia os compromissos da dívida pública.
``Há uma minoria absoluta, alguns escondidos em posições de importância, que querem que eu deixe o cargo", disse Cavallo, antes de participar de reunião ministerial com o presidente Carlos Menem e lideranças do Partido Justicialista (governista), na manhã de ontem.
O ministro não identificou os setores que querem a sua saída, referindo-se a eles como ``dirigentes nacionais e estaduais". Ele acusou o Congresso de ser ``uma máquina de impedimentos" por não aprovar projetos de lei de interesse do governo.
Ele chegou a citar os economistas Ricardo López Murphy e Roberto Alemann -ambos de oposição mas afinados com Cavallo- como candidatos de sua preferência para substituí-lo.
O próprio Cavallo indicou claramente as dificuldades para pagar mais US$ 900 milhões em encargos da dívida interna e externa que vencem em junho e julho, o que aumentou a desconfiança dos agentes econômicos.
Isto já é chamado pelo mercado de ``efeito tango", numa comparação com o ``efeito tequila" provocado pela desvalorização do peso mexicano em 20 de dezembro de 94.
Cavallo anunciou na última segunda-feira o adiamento do pagamento do funcionalismo público e a renegociação de novos prazos para saldar dívida de US$ 500 milhões com fornecedores.
Segundo a Folha apurou, durante a reunião ministerial, Cavallo se desentendeu com o presidente do Senado, Eduardo Menem (Partido Justicialista), irmão do presidente Carlos Menem.
O ministro acusou o Congresso de ser o principal responsável pela crise de confiabilidade em relação à Argentina desencadeada na última semana.
Eduardo Menem, um dos principais opositores de Cavallo no Partido Justicialista, irritou-se. Disse que as declarações do ministro eram ``pouco sérias".
No início da noite, Cavallo convocou mais de 200 empresários e banqueiros para pedir apoio para o programa de estabilização, como rotineiramente faz em momentos de crise.
Em vez de anunciar medidas para equilibrar as contas públicas e combater a recessão, o ministro se limitou a repetir que a ``Argentina não é o México". Por isto mesmo, seu discurso não agradou a platéia.
``Na Argentina, temos uma estabilidade como a européia, a norte-americana e a do sudeste asiático", disse Cavallo. Repetiu que o país pagará em dia os compromissos de US$ 5,2 bilhões da dívida interna e externa que vencem em 95.
O presidente da UIA (União Industrial Argentina), Jorge Blanco Villegas, disse que ``a velocidade com que o governo está tratando de solucionar o problemas econômicos é menor do que a necessária".
Cavallo enfatizou que o déficit na balança comercial está caindo. Segundo ele, no período de janeiro a maio, houve um superávit de US$ 350 milhões. No mesmo período do ano passado, houve um déficit de US$ 2,5 bilhões.
Dois dias depois de reconhecer que o país está em recessão, ele surpreendeu os empresários ao estimar um crescimento de 3% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos no país) argentino em 95.

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