São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Viola ataca trivialidade

DANIEL PIZA
DO ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Bill Viola, 44, divide com César as apostas para o ``Leão de Ouro". Seu pavilhão - o americano, todo dedicado a ele - é sem dúvida o mais concorrido.
Filas longas se formam para assistir a ``Buried Secrets" (Segredos Enterrados), sua vídeo-instalação de 1995.
A instalação é dividida em cinco salas -``Câmara de Sussuros", ``Intervalo", ``Presença", ``A Revelação" e ``A Saudação"- como uma composição sinfônica.
Corpos humanos dobrados, fragmentados, fundidos e de novo separados -essa é a sequência das imagens, embora não haja uma narrativa linear. ``Detesto histórias com começo, meio e fim", disse Viola à Folha, numa conversa junto ao pavilhão.
Viola detesta mais que isso. Nos monitores, telas e espelhos, projetam-se homens nus, repetindo e repetindo gestos, como se esses fossem cacoetes, tentativas patéticas de comunicar-se. A comunicação é impossível?
``Não", responde Viola. ``Mas é quase. Poucas de nossas tentativas dão certo."
No final da instalação, na sala ``A Saudação", há, no entanto, uma ``possibilidade de ``entendimento", como escreve a curadora Marilyn Zeitlin no catálogo.
À caricatura das últimas imagens - pessoas gesticulando em velocidade acelerada - é contraposta uma sequência de cenas lentas, suaves, azuladas, em que pessoas gesticulando uma para outra parecem enfim se entender.
Viola está sugerindo serenidade na ``era da ansiedade", como o escritor Arthur Roestler batizou nosso século? ``Apenas acho que não devemos poluir nossa comunicação com tantas trivialidades", responde. ``Não sou um apologista da incomunicabilidade."
(DP)

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