São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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César ``humaniza" sucata de 520 toneladas

DANIEL PIZA
DO ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

César, 74, é um mito da arte francesa contemporânea. Sua obra ocupa o pavilhão da França nos jardins da Bienal e é candidata ao ``Leão de Ouro"-prêmio de melhor exposição.
Com curadoria da crítica Catherine Millet, a mostra reúne sete peças em três salas. César falou à Folha no pavilhão francês.

Folha - Seis carros comprimidos formam uma grande muralha de sucata de automóvel, com 520 toneladas. Este é o peso da era industrial?
César - (risos) Sem dúvida. Mas repare que não há só sucata de automóvel. Há também geladeiras e lava-louças, gaiolas e computadores. Qualquer atividade nossa hoje depende de uma máquina.

Folha - Mas isso necessariamente nos torna máquinas?
César - Se essa é sua leitura, tudo bem. Nosso tempo é bastante complicado, tenso, hostil. Isso tem a ver com as máquinas. Mas estou mais interessado em pesquisar esse material industrial, em ver como a mistura das tecnologias tão exatas cria uma outra expressão.

Folha - Dizem que o sr. descobriu esses carros comprimidos num ferro-velho e mudou radicalmente o seu trabalho. Há quanto tempo isso ocorreu?
César - Há 35 anos, a visão daquele lixo industrial me fez mudar tudo. Mas sempre me preocupei com a desumanização do homem moderno. O que aquela visão me mostrou foi que da sucata se podia fazer não só uma crítica, mas também uma estética nova.

Folha - As máquinas em geral são consistentes, imponentes. O sr. mostra máquinas indefesas, cheias de falhas. A inversão tem a ver com o tema ``identidade e alteridade"?
César - Toda arte trata disso. Mas no meu trabalho há um diálogo com o corpo humano. É muito orgânico. Neste sentido, tem a ver com a mostra de Clair. Isso aí (apontando para a muralha de 520 toneladas) sou eu.
(DP)

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