São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995 |
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Sérvio linha-dura quer negociar
ANDRÉ FONTENELLE
Em entrevista à agência de notícias iugoslava Beta, Momcilo Krajisnik declarou: "A época do impasse acabou. É hora de negociar ou optar pela guerra." Porta-voz do autoproclamado "parlamento sérvio da Bósnia", Krajisnik é considerado um dos líderes mais radicais dos sérvios. Ele se opõe a qualquer acordo de divisão do país entre muçulmanos e sérvios. Essa guinada no discurso de Krajisnik foi interpretada como um sinal de enfraquecimento de sua influência no governo da "República Sérvia da Bósnia", sediado em Pale. A tomada de militares da ONU como reféns se revelou contraproducente para Pale, que se afastou ainda mais da Sérvia, sua ex-aliada. A Sérvia, cedendo a pressões internacionais, parou de dar apoio logístico aos sérvios da Bósnia no ano passado. Segundo o jornal iugoslavo "Nin", o líder dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, estaria disposto a libertar todos os reféns. Seu braço direito Nikola Koljevic, e o chefe do seu exército, Ratko Mladic, também seriam favoráveis. Mas Krajisnik e seu grupo linha-dura querem manter alguns reféns como trunfo para barganhar. Pressionado pela oposição interna -tanto dos que pregam o endurecimento quanto dos favoráveis à negociação-, Karadzic tem adotado uma conduta mais flexível. Anteontem, ele se encontrou com uma delegação da ONU em Pale, para discutir a ajuda humanitária nos encraves bósnios sitiados pelos sérvios. Foi o primeiro contato direto entre a ONU e Karadzic desde o início da crise dos reféns. Koljevic também se encontrou com representantes da ONU anteontem. Foi ele quem autorizou a Cruz Vermelha a visitar os reféns e permitir a comunicação entre eles e as famílias. A entrevista de Krajisnik foi sua primeira declaração pública desde o início da crise, no mês passado. Quase 400 militares das forças de paz da ONU foram feitos reféns pelos sérvios da Bósnia, em retaliação a ataques aéreos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Já foram libertados 232 reféns. A mediação foi feita pelo governo da Sérvia, que quer agradar as Nações Unidas para pôr fim a um embargo comercial que já dura três anos. O presidente sérvio, Slobodan Milosevic, mandou seu chefe de segurança, Jovica Stanisic, para Pale, a fim de pressionar Karadzic a soltar os reféns. Os separatistas sérvios também viram sua posição enfraquecida na Croácia, que ameaça reanexar a autoproclamada "República Sérvia de Krajina, criada em 1991 em um encrave sérvio na Croácia. Com agências internacionais Texto Anterior: País se acostuma ao embargo Próximo Texto: Combustível é contrabandeado Índice |
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