São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Brasileiro se preparou para 3 meses de cativeiro

ROGÉRIO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A ZAGREB

O capitão do Exército Brasileiro João Batista Bezerra Leonel Filho acreditava que poderia ficar até três meses nas mãos dos sérvios da Bósnia, depois que foi feito refém no último dia 26.
Leonel foi libertado na última quarta-feira, quando voou para Zagreb (Croácia) ao lado de outros 110 membros das forças da ONU soltos pelas forças sérvias.
Durante 13 dias, ele ficou restrito à sua casa, em Sarajevo, sem poder deixar o local ou se comunicar pelo rádio. A casa era guardada por um soldado sérvio, que passava todo o tempo com Leonel e os outros membros da sua equipe.
Ontem ele se preparava para uma folga de dez dias, a partir de hoje, fazendo trabalhos administrativos na base das Nações Unidas em Zagreb.
Ainda sob restrições impostas pela ONU com relação ao seu contato com a imprensa, ele aceitou responder por escrito a nove perguntas da Folha.

Folha - O que os sérvios disseram ao sr. quando decidiram mantê-lo em seu posto?
João Batista Bezerra Leonel Filho - A polícia militar informou que, daquele momento em diante, não deveríamos mais nos ausentar da área e que estávamos impedidos de usar nossos veículos. Isso ocorreu na tarde do dia 26 de maio, após ação aérea contra Pale.
Folha - O sr. passou por alguma privação durante o período como refém? Como era a sua alimentação?
Leonel - Nossas limitações eram apenas de movimento e comunicações. Nossa alimentação não sofreu nenhuma restrição.
As equipes de observadores militares têm mantimentos em reserva para garantir a alimentação dos integrantes por determinado tempo. Nossas refeições eram constituídas basicamente de saladas, conservas e carne congelada.
Folha - Como era o seu relacionamento com os soldados sérvios que o mantiveram detido? O sr. os conhecia de seu trabalho como observador militar?
Leonel - Foi destacado um soldado para a guarda dos membros da equipe, o qual permanecia em tempo integral conosco. Desde o momento em que cheguei à Europa não tive qualquer dúvida quanto aos riscos da missão e dos riscos nela embutidos.
Folha - Qual foi a sua rotina durante os 13 dias bloqueados pelos sérvios?
Leonel - É difícil estabelecer uma verdadeira rotina sob tais circunstâncias, mas de um modo geral me dediquei ao estudo e às atividades de manutenção de nossas instalações, uma vez que toda a região onde nossa equipe estava sediado se encontrava sem água e energia elétrica, o que tornava tudo mais difícil.
No entanto, a atividade mais importante era aquela em que reuníamos todo o grupo para palestras e para troca de informações sobre nossa situação.
Folha - O sr. achava que seria libertado logo? Achou que poderia permanecer detido por muito mais tempo ainda?
Leonel - Na primeira reunião do grupo decidimos que deveríamos nos preparar para um período de dois a três meses. Sempre mantivemos as esperanças de que as negociações diplomáticas poderiam resolver a situação.
Folha - O sr. recebia algum tipo de informação sobre negociações envolvendo a libertação dos reféns?
Leonel - Procuramos acompanhar as notícias através do rádio.
Folha - Quando o sr. ficou sabendo da prisão do capitão Harley Alves?
Leonel - Soube da situação do capitão Harley quando, um dia antes de ser libertado, fui levado para um quartel da polícia militar em Pale e lá encontrei o capitão Romero (Espanha).
Este oficial estava detido no mesmo alojamento em que se encontrava o capitão Harley e outros observadores militares.
Folha - O sr. imaginava antes que poderia passar por uma experiência como essa quando iniciou seu trabalho na Bósnia?
Leonel - Sempre soube que isto poderia acontecer, mesmo porque já aconteceu antes a outros militares brasileiros.
Folha - O sr. está tranquilo para voltar ao seu trabalho no mesmo posto em Sarajevo?
Leonel - Já me apresentei como voluntário para retornar a Sarajevo, se possível ao mesmo posto. A probabilidade de outra crise ocorrer existe e não me agrada, mas é um risco inerente à missão.

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