São Paulo, sábado, 10 de junho de 1995
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Culpem o presidente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Em meio a xingamentos, ofensas pessoais e troca de acusações, cresce o clima de guerra entre os ministérios da Fazenda e Planejamento -isso quando se vive um momento delicado de estabilização da economia. Só existe um responsável e se chama Fernando Henrique Cardoso.
Chegou-se ao ponto de as equipes da Fazenda e Planejamento não conseguirem mais sentar juntas para montar um projeto em comum de reforma tributária. Assessores graduados ligados a Pedro Malan vazam que, por trás da medida de quotas de importação, estaria um poderoso lobby das montadoras amparado por José Serra, supostamente de olho na sua candidatura ao governo de São Paulo ou Palácio do Planalto.
José Serra não esconde suas opiniões sobre Malan: considera-o equivocado em temas vitais como câmbio ou abertura comercial. Atribui a saída de Pérsio Arida, entre outros motivos, à desconfiança gerada pelo ministro da Fazenda, um dos suportes de Gustavo Franco.
Malan e seus aliados, entre eles Gustavo Franco, imaginam que Serra planta notícias na imprensa para desestabilizá-los. É impublicável a forma como Franco costuma se referir a José Serra mesmo para pessoas que não são de sua intimidade.
Tirando um ou outro xingamento, esse conflito era previsível por qualquer contínuo do Ministério do Planejamento ou da Fazenda. Aliás, Fernando Henrique disse que não colocaria Serra no Planejamento para que não se criasse um conflito potencial -ele conhece o estilo trombador de seu amigo Serra, cujo projeto maior é sentar na sua cadeira no Palácio do Planalto. Por isso, gostaria de vê-lo, inicialmente, no Ministério da Educação.
Até agora, Fernando Henrique tem sabido enfrentar razoavelmente seus inimigos. Mas, a julgar pelo clima dentro do governo, corre o risco de apanhar por causa de seus amigos.
Se esse conflito produzir instabilidade, a exemplo dos boatos ontem sobre a demissão de Serra, culpem apenas o presidente.
O Brasil já tem problemas o suficiente e vive uma transição delicada para, ainda por cima, ser vítima de previsíveis e não evitadas briguinhas de poder.
PS - A melhor solução é criar logo um Ministério da Economia, entregando a política econômica para um comando único.

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