São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
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EUA tentam evitar guerra comercial com Japão

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O presidente norte-americano, Bill Clinton, encontra-se hoje em Halifax com o premiê japonês, Tomiichi Murayama, para tentar evitar uma guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do planeta.
Por si só, o encontro é uma evidência de como a disputa comercial entre EUA e Japão turvou o ambiente para a reunião anual de cúpula do G-7.
Não poderia, aliás, ser de outra forma. O ponto central da cúpula é a reforma das instituições internacionais.
Ora, a divergência entre os dois países ameaça cortar a jugular da mais nova dessas instituições, a OMC (Organização Mundial de Comércio).
Nascida no dia 1º de janeiro, a OMC tem como um de seus principais objetivos exatamente o de servir de foro para a solução de controvérsias comerciais entre seus membros.
Se os EUA resolverem impor sanções unilaterais ao Japão, quebra-se o multilateralismo que é a essência da OMC.
É por isso que o governo norte-americano não encontra apoio junto a seus parceiros do G-7. Todos concordam com a queixa de Washington de que o Japão fecha demais o seu mercado, mas discordam da ação unilateral.
É verdade que os dois países têm feitos esforços para minimizar a questão. Ontem mesmo, o porta-voz de Murayama, Terusuke Terada, comentou o encontro de hoje desta forma:
``Não diria que nada se conversará a respeito (da divergência), mas não será o tema principal".
Mas um boletim do Ministério de Relações Exteriores do Japão estrategicamente colocado em uma porta ao lado se intitulava ``Separando Mitos da Realidade sobre o Mercado Japonês".
Era um esforço de demonstrar que é falsa a principal argumentação norte-americana, segundo a qual o mercado japonês é muito fechado, em especial no setor de automóveis e autopeças, o eixo da disputa com os EUA.
O folheto garante que o Japão é o terceiro maior importador do mundo, atrás dos EUA e da Alemanha.
Para os demais países, importa menos saber quem tem ou não razão e mais o impacto de uma eventual imposição de sanções norte-americanas aos japoneses.
O prazo para que o Japão abra seu mercado aos carros e peças americanas esgota-se no próximo dia 28.
O problema, para os outros, é que sanções unilaterais podem derrubar a delicada construção da OMC, que levou nove anos para ser montada.
Pelas contas dos especialistas, a plena utilização das regras de liberdade comercial da OMC fará a riqueza mundial crescer cerca de US$ 510 bilhões ao ano (ou um Brasil por ano).
Dessa fatia, o Brasil leva uns US$ 8 a US$ 12 bilhões por ano, chegou a calcular o chanceler Luiz Felipe Lampreia.
É claro que o comércio mundial não vai parar se Japão e EUA colidirem. Mas os estilhaços provocarão dificuldades para todos, principalmente na forma de uma reabilitação do protecionismo.
(CR)

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