São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI faz papel de 'xerife' da economia mundial

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) assumirá o papel de xerife da economia mundial, se os planos de reforma das organizações internacionais saírem de acordo com o que planeja o G-7, o clube dos sete países mais ricos.
A reunião anual de cúpula do G-7, que se inicia hoje em Halifax, cidadezinha da costa leste canadense, vai tratar exatamente da reforma do FMI e de seu irmão-gêmeo, o Banco Mundial.
As duas instituições foram criadas já ao final da 2ª Guerra Mundial para pôr ordem nas finanças internacionais. Mas as mudanças ocorridas no mundo nesses 50 anos as tornaram obsoletas.
Já na cúpula anterior (Nápoles, Itália, 94), o presidente norte-americano, Bill Clinton, defendera a reforma para o FMI, o Banco Mundial e também a ONU.
A crise mexicana de dezembro tornou a reforma mais urgente e lhe deu contornos mais definidos.
Agora, duas palavras são as chaves para a reforma: vigilância e transparência.
Foi exatamente nesses dois pontos que se falhou no México, avalia-se no mundo rico.
Transparência, por exemplo: o México só divulgava suas reservas três vezes ao ano. Agora o faz todo mês, até pela maior rede mundial de computadores, a Internet.
Seu então secretário de Finanças, hoje ministro, Guillermo Ortiz, convenceu o FMI a abrandar relatório sobre o México para não assustar o capital externo.
Lawrence Summers, o subsecretário norte-americano do Tesouro, substitui a palavra transparência por ``disseminação de informações", o que dá na mesma.
``Informação abrangente e disponível sobre desempenho econômico, balanço dos bancos centrais, contas fiscais contribuiria para a estabilidade, ao permitir resposta rápida dos mercados", acha.
Para o Brasil, é uma complicação. O governo demora para soltar dados, por exemplo, sobre balança comercial. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, chegou a defender a tese de divulgá-los apenas a cada trimestre, o que vai exatamente na contramão das discussões do G-7.
No capítulo vigilância, o G-7 gostaria de dar ao FMI capacidade operacional para detectar uma eventual concentração excessiva de ``hot money" (dinheiro quente, especulativo) em um dado país.
Em caso de súbita retirada desses capitais, o país fica vulnerabilíssimo. Aconteceu no México primeiro, em seguida na Argentina e até no Brasil, em menor escala.
Pela proposta dos EUA, o FMI iria além: poderia até dar ``notas" aos indicadores econômicos dos países-membros, como se faz, nos mercados desenvolvidos, com empresas e títulos do governo.
O FMI funcionaria como uma espécie de polícia preventiva. Mas não basta, admite Summers. ``Mesmo com a melhor supervisão, acidentes acontecerão", reconhece o subsecretário do Tesouro.
Aí é que entra a proposta de aumentar a disponibilidade de fundos de emergência dos atuais US$ 28 bilhões para US$ 56 bilhões.
É pouco. A crise mexicana exigiu um total de US$ 40 bilhões, entre recursos do FMI, dos EUA e de outros países. Ninguém se arrisca a dizer que bastou.
(CR)

Texto Anterior: EUA tentam evitar guerra comercial com Japão
Próximo Texto: Para ONU, a crise dos reféns está longe do fim
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.