São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Charutos de novo na moda
HELCIO EMERICH Enquanto os fabricantes de cigarros dos EUA buscam saídas para fugir do cerco cada vez mais feroz da legislação americana e dos estridentes movimentos antitabagistas, um segmento da indústria da fumaça -o dos fabricantes de charutos ``premium"- consegue encontrar motivos para comemoração.O mercado desse tipo de produto também experimentou declínio nos últimos anos (embora a taxas menores do que as dos cigarros), mas vem sendo reaquecido pelo interesse de uma afluente geração de ``pleasure seekers", aqueles consumidores que trocam a quantidade pela qualidade e que se dispõem a pagar de US$ 5 a US$ 15 por um charuto de ``pedigree". Comparado com o dos cigarros ``premium", o consumo de charutos da mesma categoria nos EUA é quase residual. Segundo a Cigar Association of America, no ano passado foram vendidos cerca de 110 milhões de unidades, o que representa para a indústria um negócio da ordem de US$ 120 milhões. O consumo per capita (entre fumantes) em 94 foi de 26 unidades, uma insignificância quando se lembra que na década de 20, época de ouro do charuto, essa média chegava a 269 unidades por ano. Os analistas do setor têm algumas explicações não exatamente mercadológicas para a ressurreição da imagem do produto. Uma delas é que a associação entre o cigarro, câncer e moléstias cardiovasculares não é tão crítica em relação ao charuto. Outra é que várias celebridades adeptas dos ``fine cigars" (caso de David Lettermann e Bill Cosby, para citar apenas duas) não se julgam politicamente incorretas por aparecer em público curtindo suas baforadas (cigarro é vício, charuto é estilo de vida). Todo mundo sabe quanto isso vale em termos de emulação junto aos consumidores. Por último, houve a contribuição da mídia que, farejando o ``revival" do segmento, se apressou em lançar novas publicações dirigidas à classe dos fumantes de charutos. A mais badalada chama-se ``Cigar Aficionado" e o seu ``publisher", Marvin Shanken, é tido como um dos cruzados das causas em defesa dos ``direitos dos fumantes". No lançamento da revista, que hoje já conta com 100 mil leitores (com status para atrair anunciantes como Cadillac, Rolex e Cartier, além de todas as marcas de charutos) Shanken promoveu ruidoso "black-tie smoker party reunindo 175 ricos e famosos nos salões do Saint Regis Hotel, de Nova York. A promoção deu início a uma série de eventos semelhantes realizados em outras cidades americanas, em colaboração com a Retail Tobacco Dealers Association, entidade com sede em Baltimore que representa os mil revendedores especializados em charutos dos EUA. Na categoria dos ``premiuns", praticamente todos os charutos vendidos na América são importados: 55% vêm da República Dominicana, 22% de Honduras, 11% da Jamaica, 7% do México e os restantes 5% de outros países. Os principais fabricantes e suas marcas de maior prestígio são a General Cigar (Macanudo e Partagas), a Consolidated Cigar (Dom Diego e H. Uptmann), a Villazon (Punch e Hoyo de Monterrey) e a Arturo Fuente (Montesino e Arturo Fuente). A tradição cubana na fabricação de charutos fica por conta de alguns rótulos como Partagas e Uptmann, originários da ilha de Fidel. Hoje, de cada dólar gasto pelo consumidor americano em produtos do tabaco, 98 centavos vão para os cigarros e os dois centavos restantes são divididos entre itens como goma de mascar sabor tabaco, fumo para cachimbos, pó de tabaco (o nosso rapé) e charutos. Os fabricantes dos ``premiuns cigars" apostam que o seu segmento é o único capaz de aumentar o ``share" de mercado nos próximos anos. Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna Criação & Consumo Texto Anterior: Associação traz a 7ª agência inglesa ao país Próximo Texto: Carga tributária distorce preço de fralda Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |