São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Rio volta a sonhar

LUÍS NASSIF

Um dos fenômenos regionais mais importantes do momento é o processo de recuperação da identidade do Rio de Janeiro.
O carioca, que sempre teve visão de país muito mais cosmopolita do que o paulista, era incapaz de administrar seus interesses restritos. A própria Proclamação da República demonstrava essa profunda dicotomia. De um lado, havia o Rio capital, caixa de ressonância de todas as teses relevantes de modernização. Do outro, o Rio paroquial, com a Câmara Municipal sendo controlada desde sempre pela contravenção e pelo populismo.
A perda do status de capital e a unificação desastrada entre os antigos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro produziram crise de identidade de proporções catastróficas. Foi preciso bater no fundo do poço para dar início à busca de saídas.
Hoje, aparentemente, os meios político, social e econômico fluminenses começam a caminhar para um grande consenso, que o secretário de Indústria e Comércio do Rio, Ronaldo César Coelho, compara ao grande pacto de industrialização paulista, nos anos 40, e mineiro, nos anos 70.
Regionalizando
O Rio tem uma situação única no país, de concentrar 85% da população e da economia na região metropolitana. Agora, o Estado constata que sem fortalecer o interior não haverá meios de equacionar os problemas da metrópole.
``A palavra de ordem por aqui é eficiência sistêmica", diz o secretário. Ou seja, criar condições de infra-estrutura favoráveis para a atração de empresas.
Essas condições passam por investimentos pesados na área de telefonia, pela coordenação dos esforços de pesquisas das cinco universidades do Estado e pela implantação do complexo portuário do Rio. Este é o pano de fundo para quatro megaprojetos.
O Rio dispõe de duas baías -Sepetiba e Guanabara- que permitem operações com navios de 300 mil toneladas. Com investimentos estimados em US$ 65 milhões, o secretário Coelho julga que o Rio disporá de um complexo logístico único para o Mercosul. Terá ligações com o porto de Vitória, por meio da ferrovia da Vale. E integração com a Ferro Norte e a Rede Ferroviária Federal.
Com esse complexo, César Coelho julga que o Rio acabará atraindo todas as cargas do complexo Tietê-Paraná, sul de Minas, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, prevalecendo-se sobre a menor eficiência e o menor calado do porto de Santos.
Macroprojetos
A segunda aposta fluminense é no pólo gás-químico. Como maior produtor nacional de gás, o Rio já atraiu investimentos da ordem de US$ 800 milhões para seu pólo, e tem certeza de que, dentro de um cenário competitivo, acabará assumindo a posição que hoje é de Camaçari, na Bahia.
O terceiro centro será o pólo metal-mecânico do sul do Estado, a partir da recuperação da Companhia Siderúrgica Nacional -que dispõe, hoje, de capacidade de investimento da ordem de US$ 500 milhões/ano. César Coelho conta com a participação acionária da CSN para atrair para o Rio a fábrica da Renault. Além de já tratar como favas contadas a instalação da fábrica da Volkswagen em Resende.
O quarto grande projeto pretende ser a irrigação do norte fluminense, visando atrair usinas de açúcar de São Paulo. Com irrigação, o norte fluminense teria uma fertilidade comparável à de Piracicaba, diz o secretário.
O Rio é problema nacional. Sua recuperação pela economia formal é uma das batalhas centrais para a criação do grande projeto nacional de desenvolvimento.

Texto Anterior: Economia de escala é o jogo
Próximo Texto: Empresa se associa a banco para fazer talão de cheque
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.