São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Rui Moreira resgata costumes simples

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Grupo Corpo traz para São Paulo nesta semana algo mais do que o rico repertório que marca seus 20 anos de atividades. Em temporada de hoje até domingo, no Municipal, o grupo Corpo só não se apresenta na sexta-feira.
Aproveitando a ``folga", Rui Moreira - um dos melhores bailarinos brasileiros, que integra o elenco do Corpo - apresenta no Blen Blen Club o espetáculo ``De Patangome na Cidade".
Na próxima sexta, Moreira vai mostrar os resultados da pesquisa cênica que vem realizando paralelamente à atuação no Corpo, onde dança há 11 anos. Junto com dois músicos mineiros, Guda e Gil Amâncio, que também é ator, Moreira percebeu que poderia explorar um terreno fértil dois anos atrás, durante performance em uma exposição de artes plásticas.
Dali em diante, intensificou a parceria com os dois e o trabalho começou sem pretensões, mais pelo prazer de chegar a pequenas descobertas. ``Como não tínhamos um diretor, fomos filmando, documentando tudo, até nos convencermos de que era possível levar ao palco", diz Moreira.
O trio, que se autodenomina Companhia Seráquê?, parte de elementos simples da cultura popular. Patangome significa o chocalho feito com uma lata e amarrado no tornozelo, que é utilizado na festa afro-brasileira do congado.
``Patangome na Cidade" mistura cultura popular e urbana. ``O patangome cria um ponto comum. É como se chegássemos à cidade usando este chocalho e sua sonoridade fosse criando identificações, cumplicidades, mexendo com as lembranças das pessoas."
Resgatando costumes simples, massacrados pela vida urbana, Moreira compara este espetáculo ao ato de sentar à beira de uma fogueira. ``É como se parássemos para olhar o fogo, que traz memórias que nos alimentam."
Em ``Patangome na Cidade", Moreira realiza solos com a fluência de movimentos que costuma deliciar as platéias do Grupo Corpo. Por vezes, ele dança ao som de improvisos vocais realizados pelos parceiros da Companhia Seráquê?
As sonoridades das mãos, percussionando o corpo, também servem de trilha musical. Ao contrário das coreografias milimetricamente marcadas do Grupo Corpo, em ``Patangome..." Moreira parece dançar de forma quase instintiva, como se estivesse respondendo a estímulos ou à musicalidade natural dos próprios gestos.
``Este trabalho paralelo não significa que estou me desligando do Corpo", esclarece Moreira. ``Para mim, é outro tipo de alimento criativo."
Com cerâmicas do Vale do Jequitinhonha servindo de cenografia, ``Patangome na Cidade" também inclui improvisações inspiradas na estrutura do jazz.
Nascido em São Paulo (``na Barra Funda, às margens do Rio Tietê"), Moreira quer fundir às suas raízes afro-brasileiras as vivências urbanas e até cosmopolitas, já que nos últimos anos as turnês do Grupo Corpo o têm levado a diferentes cidades do mundo.
Casado com a bailarina Beth Arenke, com quem tem duas filhas, Moreira ingressou no ambiente teatral como técnico de iluminação. ``Fazia projetos de mesa de luz", lembra.
Em São Paulo, onde desenvolveu parte da carreira, participou do musical ``Emoções Baratas", de José Possi Neto, e também dançou no Balé da Cidade.

Espetáculo: Grupo Corpo
Quando: hoje e dias 20, 21, 22 e 24 às 21h e dia 25 às 17h
Onde: teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698)
Quanto: R$ 5 a R$ 30

Espetáculo: De Patangome na Cidade
Com: Companhia Seráquê?
Quando: dia 23 às 21 horas
Onde: Blen Blen Club (r. Cardeal Arcoverde, 2.978, tel. 815-4999)
Quanto: R$ 15

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