São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
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Tetra, apesar de tudo

Começou este final de semana a segunda fase do Campeonato Paulista de futebol. E começou já sob o peso de uma primeira fase desanimadora, que registrou uma queda de 24,6% na média de público face ao ano passado. Outra medida desse pouco interesse pelo certame: pesquisa do Datafolha mostra que 72% dos torcedores que possuem time de preferência não sabem indicar o artilheiro de sua equipe.
As causas dessa situação são muitas e incluem as más condições dos estádios (os dois maiores da capital estão parcialmente interditados), a violência das torcidas, a venda de craques. Mas contribuíram também as marcas lamentavelmente tradicionais do futebol nacional, como a desorganização e os calendários malfeitos.
A própria forma do torneio merece reparos, ao prever uma maratônica primeira fase de 240 partidas pouco decisivas e, assim, de pouco interesse para o público. É certo que a segunda fase tende a atrair mais torcedores, mas o mau planejamento fez com que colidisse com o calendário (há muito sabido) da seleção brasileira, que requisitou para a Copa América alguns dos melhores jogadores. A situação é tal que vários clubes agora reclamam da forma e do calendário que foram definidos por eles próprios.
Enquanto isso, com astros novos nos gramados cariocas e mais investimento, o campeonato estadual do Rio tem atraído cada vez mais atenção. A média de gols de 94 em São Paulo, por exemplo, foi 19% maior do que no Rio. Este ano, no início da temporada, já estava 0,5% menor. Ainda assim, o torneio carioca também tem problemas, da forma confusa à violência.
Essa questão da violência das torcidas é sem dúvida de difícil solução, já que lida com a realidade social. Mas só pode surpreender que o maior esporte profissional do país ainda esteja submetido a tanto amadorismo quanto a sua organização. É uma mostra -mais uma- de que o futebol brasileiro conquistou o tetra não por causa da sua estrutura interna, mas apesar dela.

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