São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Hotel reprime os beijos entre gays

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A 17ª Conferência Mundial da Associação Internacional de Lésbicas e Gays abalou a rotina do Rio Palace Hotel, o cinco estrelas na orla de Copacabana que abriga o encontro.
Os funcionários foram instruídos a serem gentis com todos, mas zelarem para que não ocorram em público cenas consideradas escandalosas, como beijos e abraços entre pessoas do mesmo sexo.
``Se ficarem muito afetados no lobby, abraçados ou trocando beijos, tenho que ir lá e pedir: `Por gentileza, sejam mais discretos'. Por enquanto, ainda não tive nenhum problema", diz Pietro Paolo Mega, 24, da recepção do hotel.
O funcionário estabeleceu uma estratégia para receber os gays da conferência: ``O pessoal chega alegre, com muitos sorrisos e roupas alegres e eu respondo sério. Nem abro o sorriso para evitar intimidade", explica Mega.
Os mensageiros do hotel não compartilham da tática.
``Eles (os gays) até dão uma gorjeta melhor na esperança que role alguma coisa. Já recebi duas cantadas desde que começou. Me convidaram para um drinque. Falei que não, né! Sou casado, olha aqui a foto da minha filha", diz o mensageiro Clerton Araujo, 27.
Menos discreto, um colega de Araujo grita na entrada do hotel: ``Tem até bicha japonesa aqui. Você já viu bicha japonesa?"
Diante do pedido de uma entrevista, o mensageiro esclarece, sem se identificar: ``Olha só, não tenho nada contra bicha, não."
O segurança João (não diz o sobrenome) informa estar fazendo o possível para manter a compostura: ``Você tem que agir como profissional. Somente cobrir o evento. Nunca aceitaria uma cantada. Nem de mulher", esclarece.
No bar Imperator, ao lado do Rio Palace, os garçons estão satisfeitos: ``Não tenho nada contra. Eu trato a todos como seres humanos. Às vezes, a gorjeta é até melhor", diz o garçom Francisco Farias.
Ninguém usa a palavra gay para designar os participantes da conferência. ``Só vi uma fera até agora. E olha que a fera fala mais grosso que eu", diz Vilmar da Silva, caixa do bar na piscina do hotel.

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