São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alimentação infectou bebês da Unicamp

ROBERTO CARDINALLI
DA FOLHA SUDESTE

Os seis recém-nascidos mortos por infecção hospitalar no berçário do Caism (Centro de Assistência Integral à Saúde da Mulher da Unicamp) foram infectados por meio da alimentação parenteral.
Alimentação parenteral é um composto formado por 12 componentes nutricionais, como glicose, cálcio, potássio, entre outros, e fornecido aos bebês prematuros -nascidos antes dos noves meses, período ideal de gestação- através de injeções durante a fase de reforço alimentar.
As crianças morreram em um período de 72 horas, entre segunda e quarta-feira da semana passada.
Técnicos da Unicamp ainda não identificaram se o componente foi infectado no laboratório fornecedor do medicamento ou na própria universidade.
``Não podemos descartar nenhuma hipótese", disse a presidente da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas da Unicamp, Antonia Teresinha Tresoldi.
Os lotes dos componentes foram bloqueados e a universidade paralisou o processo de manipulação da alimentação. ``Vamos terceirizar a confecção da alimentação parenteral para evitar novas surpresas", afirma o chefe do berçário, Sérgio Marba.
As análises vão continuar por mais um mês. O hospital deve permanecer fechado por dez dias, enquanto durar a fase de desinfecção completa do berçário.
Ontem, uma das cinco crianças que estão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) teve seu quadro agravado e corre risco de vida. As demais se mantiveram estáveis. Mais 11 bebês não-infectados continuam internados no hospital.
A Unicamp abriu um inquérito epidemiológico para investigar se os técnicos da universidade que manusearam os componentes estariam com a bactéria Enterobacter Cloacae, que causou as mortes.
A Polícia Civil de Campinas investiga, através de inquérito no 7º Distrito Policial, possível negligência médica da universidade.
Antonia Teresinha Tresoldi admitiu a possibilidade de ter ocorrido uma falha na limpeza ou na higiene por parte da universidade.
``Temos que abrir todas as frentes para identificar onde foi que a bactéria entrou na alimentação parenteral", disse Tresoldi.
A Unicamp não revelou os laboratórios fornecedores. ``Só vamos divulgar a procedência após termos absoluta certeza."
Uma terceira possibilidade também está sendo analisada. Apesar de a bactéria ter sido identificada na alimentação parenteral, uma das crianças infectadas não recebeu esse tipo de alimentação.

Texto Anterior: Semab aplica 233 multas em duas semanas
Próximo Texto: Hospital de Ribeirão inaugura novas alas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.