São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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A vanguarda do atraso

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Congresso norte-americano votou e aprovou na quarta-feira passada uma pacote de desregulamentação nas telecomunicações do país. O filé é o fato de que uma mesma companhia poderá possuir empresas de TV a cabo, telecomunicações, rádio etc, o que era até então proibido. Foi inclusive derrubada uma emenda que permitiria ao Departamento de Justiça norte-americano arbitrar em que Estados o mercado local seria competitivo o suficiente para levantar as restrições sobre as companhias telefônicas. Conclusão otimista: a competição entre as empresas vai baixar os preços. Pessimista: vão se formar megacartéis de TV a cabo, telefonia e redes de dados. No mesmo pacote foi aprovada a famigerada emenda do senador James Exon, que criminaliza a transmissão de material "indecente" por redes de computador (leia-se Internet). Chato foi que a lei quase incluiu transmissões por TV a cabo, mas as emissoras conseguiram se safar. Apesar de todo o "hype", a comunidade interneteira ainda não é organizada (leia-se rica) o suficiente para se livrar desse tipo de censura. Ou seja, o problema não é a pornografia, mas o fato de que ninguém está fazendo dinheiro com ela.A sessão no Congresso foi um primor de hipocrisia. Sob o pretexto de alertar os lares americanos do perigo que correm, o senador James Exon aproveitou para exibir uma quantidade enorme de material explícito recolhido na rede. Brock Meeks, jornalista americano, autor de uma incendiária "newsletter" que circula na Internet, notou porém que no banheiro do Congresso encontrava-se material do mesmo nível...Mais desagradável: a emenda foi aprovada por 84 votos a favor e 16 contra. Vingança conservadora em grande estilo. Quero ver como essa lei vai ser aplicada. A mesma internacionalização que põe dólares mundiais no bolso das empresas de informática e telecomunicações americanas facilita que um usuário coloque material ilegal nos EUA em um computador na Finlândia, por exemplo. E ele estará tão disponível para os americanos como se estivesse na Califórnia ou no Tennessee.
Guerra na Web
Por falar em Tennessee, uma guerra engraçada está sendo travada entre políticos norte-americanos. Lamar Alexander, ex-governador do Tennessee, diz que é o primeiro político a ter um serviço só dele na World Wide Web (http://www.Nashville.net). O senador Gramm, do Texas, diz que o seu é o primeiro (http://www.gramm96.org). Os dois estão há semanas nessa história infantil de "eu cheguei primeiro". Detalhe: ambos disputam candidatura à Presidência dos EUA no Partido Republicano. Pelo menos nos EUA, um lugarzinho na Internet é um grande trunfo de marketing político.
Dinheiro limpo
Bill Gates não desanima. Acaba de perder um processo de truste e ser proibido de comprar a empresa de software Intuit, e já enfrenta mais uma denúncia de cartelização, que começa a ser investigada pelo Departamento de Justiça norte-americano. O fato de o software necessário para acessar a Microsoft Network vir embutido no Windows 95 (aquele que dizem que vai sair em agosto mesmo) pode dar a Gates uma vantagem da ordem de 50 milhões ou mais de usuários no mercado de acesso à Internet. Enquanto isso, a Microsoft (sinônimo de anticristo para a comunidade interneteira) planeja fabricar dinheiro. A idéia é fazer cartões tipo cartão de crédito, com chips que "armazenam" um valor. O produto é semelhante a um protótipo inglês que começa a ser testado este mês, o Mondex. O e-mail de NetVox é netfolha@sol.uniemp.br

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