São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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`Conto de Inverno' abre ciclo Rohmer

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ciclo: O Cinema de Eric Rohmer
Filmes: O Joelho de Claire (16h45), Conto de Inverno (19h) e Um Bom Casamento (21h30)
Onde: sala Cinemateca (rua Fradique Coutinho, 361, tel. 011 881-6542)

A Cinemateca inicia hoje seu ciclo Eric Rohmer exibindo dois inéditos do diretor francês: ``Conto de Inverno" (1991) e ``Um Bom Casamento" (1981).
O terceiro título do dia, ``O Joelho de Claire" (1970), é um clássico já exibido em outras mostras.
Embora cada um dos três filmes pertença a uma ``série" diferente (por ordem cronológica: ``Contos Morais", ``Comédias e Provérbios" e ``Contos das Quatro Estações"), em todos eles se percebe o estilo inconfundível do diretor, seu ``cinema de câmara" concentrado em poucos personagens e eventos aparentemente banais.
Nesses ``documentários sentimentais" há sempre um descompasso entre os desígnios dos personagens e a realidade cheia de arestas à sua volta. Há também uma tensão sutil entre mulheres íntegras e homens pusilânimes.
Em ``O Joelho de Claire", durante férias junto a um lago, um diplomata se torna prisioneiro de uma obsessão: acariciar o joelho da filha ninfeta de uma amiga.
Em ``Um Bom Casamento", uma moça que trabalha num antiquário em Le Mans decide casar e escolhe arbitrariamente um advogado como noivo, tentando encaixar a vida à força em seus planos.
Mas o grande filme do dia é ``Conto de Inverno", por representar uma depuração extrema dos temas e da linguagem do cineasta.
Uma jovem, Félicie (Charlotte Véry), vive nas férias de verão um romance fugaz com Charles (Frédéric Van Den Driessche).
Terminadas as férias, ele vai para a América e ela dá a ele, por um lapso, um endereço errado. Os dois não se encontram mais. Pior: ele a engravidara.
Corta para cinco anos depois. Com a filha que teve com Charles, Félicie hesita em casar com um de seus dois pretendentes, pois ainda espera, com um fervor quase místico, reencontrar o homem amado.
A obstinação de Félicie em manter-se aberta à possibilidade do milagre do encontro é análoga à da protagonista de ``O Raio Verde", outro belo filme de Rohmer.
Essa situação permite ao cineasta tratar de forma mais explícita um tema que lhe é caro: o da crença na graça (no sentido religioso), contra toda ponderação da razão.
Em torno disso giram a ética e a estética de Rohmer. Nos pequenos mundos que ele cria, os encontros podem ser ou não instrumentos da revelação e da salvação -depende do acaso e da disposição espiritual (da fé, em suma) de quem os vive.

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