São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 1995
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Banda sem futuro

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A nova política para a indústria automobilística, que tanta confusão está causando, tem uma faceta boa e outra ruim. A boa: incentivar a produção local, seja das empresas já instaladas, seja tentando atrair novas montadoras.
Fabricar bens no país produz mais riquezas e mais empregos do que simplesmente importá-los, uma obviedade que se perdeu nas dobras da febre aberturista.
O lado negativo: a tentativa de driblar uma política cambial insustentável por meio de ações de outra natureza para reequilibrar a balança comercial.
A respeito do câmbio, vale a pena resgatar um dos incontáveis ``papers" produzidos para a cúpula do G-7 recém-encerrada e que parece escrito diretamente para as autoridades brasileiras lerem na cama.
O autor é David Fernandez, professor da Escola John Hopkins para Estudos Internacionais Avançados, e trata das opções de política cambial, entre elas a de bandas, também chamadas ``targets" (metas, alvos).
Trechos: ``Para defender uma meta cambial, o governo tem que ter a vontade e os recursos para derrotar as pressões do mercado, especialmente ataques especulativos contra a moeda que não sejam baseados nos fundamentos econômicos. No passado, essa era uma tarefa muito mais fácil. A crescente mobilidade do capital torna, entretanto, essa resistência extremamente custosa e potencialmente insustentável politicamente".
Fernandez acrescenta que o problema fundamental para defender um banda cambial é ``o tamanho do mercado que o governo enfrenta". Cita então o US$ 1 trilhão que se movimenta todo dia, o que torna o inimigo praticamente imbatível.
Conclusão: ``A alta mobilidade do capital, então, faz com que seja menos provável que um regime de taxas de câmbio fixas possa sobreviver a um ataque especulativo. Por extensão, todos os regimes com metas (cambiais) estão em constante perigo".
Os economistas podem não acertar sempre, mas o texto de Fernandez parece carregado mais de sentido comum do que de economês.

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