São Paulo, domingo, 25 de junho de 1995
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Publicidade do governo custa R$ 382 mi

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; ANDREW GREENLEES
EDITOR DO PAINEL

ANDREW GREENLEES
Os 49 contratos de publicidade do governo federal em vigor somam R$ 382,6 milhões. Esse dinheiro seria suficiente, por exemplo, para dobrar o número de calorias da merenda escolar de 34 milhões de crianças durante um ano. Ou erguer 57 mil casas populares.
O período de vigência dos contratos varia. Os mais antigos foram assinados a partir de setembro de 93 e depois prorrogados. Os mais recentes vigoram até maio de 96.
Desde 1º de janeiro, a administração Fernando Henrique Cardoso renovou contratos com agências de propaganda num total de R$ 98,8 milhões. Além disso, fechou R$ 9,7 milhões em novos contratos. Os documentos têm duração entre três meses e um ano.
Os contratos assinados no governo Itamar Franco que ainda estão em vigor totalizam R$ 274,1 milhões. A vigência de todos acaba neste ano.
Todos os dados são oficiais, da Presidência da República.
A Folha teve acesso a uma cópia do relatório da Secretaria de Comunicação Social da Presidência enviado como resposta a um pedido de informações encaminhado há um mês pelo deputado Luiz Gushiken (PT-SP).
Em papel com timbre oficial, o documento é assinado pelo chefe do órgão e porta-voz de FHC, embaixador Sérgio Amaral.
A Secretaria de Comunicação é o órgão federal responsável por homologar todos os contratos de publicidade do governo, inclusive os das empresas estatais e ministérios.
Ela dá a palavra final sobre o conteúdo das campanhas publicitárias e o valor dos contratos fechados com as agências.

O maior anunciante
Comparando-se os contratos em vigor, o maior anunciante federal é, de longe, o Banco do Brasil. Sozinho, é responsável por um terço de todo o valor contratado pelo governo: R$ 128,5 milhões. Isso representa 36% do lucro líquido do banco em 93.
``Para um banco que tem sérios problemas financeiros, carências na área de informática e salários arrochados, é um uma irresponsabilidade administrativa alocar tanto dinheiro em publicidade. E ainda para fazer propagando do governo, não da instituição", diz o deputado Gushiken.
Chefe da Secretaria de Comunicação Social do Banco do Brasil, Marlo Litwinski tem dois argumentos principais para defender os contratos assinados pelo BB: nem todo o valor contratado foi gasto e mesmo as propagandas do governo pagas pelo banco são boas para a imagem da instituição.
Segundo ele, dos R$ 71,5 milhões previstos em quatro contratos assinados pelo banco em 94, ``apenas R$ 39 milhões" foram efetivamente gastos.
Todos estes contratos foram renovados este ano, totalizando mais R$ 57 milhões. Mas, afirma Litwinski, o orçamento do BB para 95 prevê R$ 40 milhões para publicidade.
``O que é menos do que os R$ 54 milhões que gasta o Bradesco", acrescenta. Os contratos assinados pelos órgãos federais são basicamente de três tipos: publicidade legal, mercadológica e institucional.
A primeira limita-se à publicação de balanços e editais. A segunda destina-se à venda de algum produto ou serviço. A terceira visa reforçar a imagem da instituição.
É desta última categoria que o Palácio do Planalto, que não tem verba própria para este fim, se aproveita para fazer propaganda, por exemplo, do real.
``Defender o governo agrega valor à imagem do banco, porque transmite confiança", argumenta Litwinski.
O fato de que ``só" R$ 79 milhões dos R$ 128,5 milhões contratados pelo BB devem ser gastos de fato não significa que as despesas federais efetivas com publicidade sejam necessariamente menores do que a soma dos valores dos contratos em vigor.
Há outros anunciantes federais importantes que ficaram de fora do levantamento da Secretaria de Comunicação da Presidência.
A Caixa Econômica Federal, por exemplo, não entrou na relação porque seus contratos venceram em maio.
Os três foram assinados pela CEF em janeiro de 94 e prorrogados, em novembro, até o mês passado.
Somando-se os valores originais com os das prorrogações, o total chega a R$ 39,4 milhões.
Esse valor colocaria a CEF na segunda posição do ranking dos anunciantes federais, pouco à frente do Ministério da Saúde.

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