São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Documento militar contradiz laudo

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Documento do Exército, datado de 16 de abril de 1971, contradiz o laudo do médico-legista Pérsio José Ribeiro Carneiro, 56, que atestou a morte, em consequência de tiroteio, do guerrilheiro Joaquim Alencar Seixas, de extrema esquerda.
O documento, arquivado no Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) em São Paulo, revela que Seixas foi interrogado pela primeira vez entre 10h e 11h30, no DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), ligado ao Exército.
Pelo documento, a prisão de Seixas, dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes, aconteceu na rua Vergueiro.
O documento do Exército confirma informação dada por Ivan Seixas (filho do guerrilheiro), também preso na ocasião.
Já no laudo do médico-legista consta que a morte de Seixas aconteceu às 13h daquele dia, depois de ``travar violento tiroteio com órgãos da Segurança" na av. do Cursino, Ipiranga.
``O laudo só reproduz a informação da polícia. Não há como o médico saber o que aconteceu antes", disse Carlos Mílen, 40, advogado de Carneiro.
O caso é apurado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo.
Ao todo, 24 legistas são acusados de colaborar com a repressão política, assinando laudos que confirmam as versões oficiais das mortes de opositores do regime de 1964.
``Até agora, o grupo Tortura Nunca Mais não apresentou qualquer indício palpável que prove que a causa da morte não foram os tiros", rebate Milén.
Segundo Ivan, seu pai morreu aos 49 anos sob tortura, e os sete tiros (citados na necropsia de Carneiro) foram disparados após a morte para justificar a versão de tiroteio.
Carneiro descreveu no laudo vários ferimentos na cabeça e em todo o corpo de Seixas.
Seu laudo nega tortura e conclui que a morte ocorreu por hemorragia causada pelos tiros.
Em 1991, na CPI da Câmara Municipal sobre mortos e desaparecidos políticos, o policial David de Araújo Santos disse ter visto Seixas no DOI-Codi, mas negou seu envolvimento em tortura.
``Ele não foi preso por mim, não participei da pancadaria que sofreu seu pai", disse na CPI, diante de Ivan.
O CRM ouve amanhã três testemunhas de acusação. A entidade mantém sob sigilo depoimento já dado por Carneiro.

Texto Anterior: FHC recua nas concessões a desaparecidos
Próximo Texto: Justiça decide hoje o caso Fiel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.