São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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'Uso a história como âncora'

"Tenho necessidade de coação. Ela é como um estímulo"

WERONIKA ZARACHOWICZ
DO WORLD MEDIA

Jovem precoce da arquitetura suíça, Mario Botta tinha apenas 23 anos quando construiu a célebre Maison Ronde (Stabio/Itália). Hoje, aos 52 anos, defende a história como âncora do trabalho.
Recentemente, destacou-se com dois monumentos marcantes -a Catedral de Évry (Essone/França) e o Museu de Arte Moderna (San Francisco/EUA).
Em entrevista ao World Media, ele fala de seu diálogo constante com a memória histórica. Para esse pós-antigo -como ele prefere se definir-, o panteão permanece como um exemplo de arquitetura, por sua capacidade de atravessar os séculos.
A seguir, os principais trechos.
*
World Media - Qual é a sua obra-prima?
Mario Botta - A próxima!
World Media - O senhor vive em Lugano (Suíça). É uma escolha viver fora da cidade?
Botta - Trabalho aqui porque nasci aqui. Gosto de me nutrir dos anticorpos desse local, dessa memória histórica. E trabalhar para a cidade é uma necessidade. A cidade é para o arquiteto o que o museu é para o artista. É um lugar de confrontação com a história de seu próprio tempo.
World Media - O interesse pela história é a razão do seu trabalho?
Botta - O arquiteto é um instrumento da história. E é verdade que, por um feliz acaso, minhas últimas construções -o Museu de Arte Moderna e a Catedral de Évry- têm um forte significado histórico. Em ambos, os valores funcionais passam para segundo plano, o que, aliás, é criticado.
O museu atual é o que eu chamaria de catedral laica. É um lugar privilegiado para as atividades do espírito. É um lugar de recolhimento, onde se vai à procura de valores, expressos através das obras.
World Media - Como seu trabalho evoluiu?
Botta - Não se nasce arquiteto, a gente se torna. Meu trabalho tem princípios muito simples. Primeiro, tenho a idéia de uma casa, um abrigo. Em seguida, à medida que as encomendas se tornaram complexas, enfrento os problemas da cidade.
World Media - O sr. trabalhou na Europa e nos Estados Unidos. Com qual contexto o diálogo foi mais rico?
Botta - Tenho necessidade de coação. É um pouco como o quadro para o pintor. Ela me estimula. Ora, há mais coações na Europa, uma vez que esses países estão carregados de memória histórica.
World Media - O que o senhor pensa do pós-modernismo?
Botta - Não gosto de rótulos. Prefiro me considerar pós-antigo. Reconheço na história, no passado, grande amigos.

Tradução de Bertha Halpern Gurovitz.

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