São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Faço projetos para provocar'

SASKIA REILLY; <UN->WILLIAM ECHIKSON
DO WORLD MEDIA

O arquiteto italiano Renzo Piano, 59, tinha 35 anos quando ganhou o concurso e co-projetou o polêmico Centro Georges-Pompidou (Paris/França). ``Foi uma provocação interessante", confessa.
Em entrevista ao World Media, ele fala também de seus projetos mais recentes. E diz que o arquiteto devia viver pelos menos 200 anos: ``Os cem primeiros para aprender sem fazer muitos desastres; a outra metade para aplicar o que aprendeu".
A seguir, os principais trechos.
*
World Media - Qual é a sua obra-prima?
Renzo Piano - É sempre a mais recente! World Media - Quando você olha para o Pompidou, como você o justifica?
Piano - Não o justifico. Em Paris, nos anos 70, os edifícios institucionais destinados à cultura eram intimidantes -fortes, severos. Foi uma provocação interessante fazer um prédio que inspirasse uma emoção totalmente nova. Pensei: aterrisse com a espaçonave. Por que não? É mais direto.
World Media - O seu trabalho mudou com o passar dos anos?
Piano - O Centro Pompidou é frequentemente descrito como um triunfo da tecnologia, e não é. É uma paródia da tecnologia. Não é triunfalista, não é alta tecnologia. Você conhece as histórias de Julio Verne sobre os submarinos e as máquinas voadoras? Bom, eles são submarinos que nunca irão flutuar e máquinas voadoras que nunca irão voar. O Centro Pompidou é um foguete que não voa, é uma paródia.
World Media - E o Museu Menhil?
Piano - Houston, no Texas (EUA), é uma cidade sem memória, sem história, sem os clássicos edifícios institucionais que intimidam. Lá, a provocação foi o oposto: ser íntimo, muito íntimo.
World Media - Porque o aeroporto de Osaka (Japão) é tão monumental?
Piano - Quando se constrói algo como o aeroporto de Osaka, que tem quase dois quilômetros de extensão, ele é monumental no sentido de que lá existe um espaço imenso. De dentro, você não vê o fim.
World Media - Como você gostaria de ser lembrado?
Piano - Sempre digo que um arquiteto deveria viver pelo menos 200 anos. Ele precisa dos primeiros cem anos para aprender sem fazer muitos desastres. E precisa da outra metade para aplicar o que aprendeu. É uma disciplina difícil.
Você tem que ser um bom construtor, um bom artista, um bom sociólogo e um bom historiador -muitas coisas boas ao mesmo tempo. E isso significa muita habilidade, equilíbrio e harmonia em conjunto. Para tudo isso, é preciso muita atenção.

Tradução de Vasco da Costa Pinto Neto.

Texto Anterior: 'Uso a história como âncora'
Próximo Texto: O século 21 é uma incógnita
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.