São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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O século 21 é uma incógnita

RICARDO BOFILL
ESPECIAL PARA O WORLD MEDIA

Neste final de século desapareceram as teorias e profecias sobre o futuro. O século 21 passa a ser uma incógnita. E a cidade se transforma num reflexo físico das aspirações e utopias dos cidadãos.
O urbanismo é a disciplina que nos permite compreender e projetar as ilusões e as catástrofes sociais. Por que, então, os políticos não se interessam por uma disciplina que é capaz de globalizar e sintetizar fisicamente o conjunto dos problemas sociais?
Por que os pensadores contemporâneos preferem propor soluções parciais para a marginalidade e a pobreza, em lugar de propor soluções que se encaixem no que vivem os cidadãos?
Por que discutimos de forma intermitente a cidade malconcebida, mas somos incapazes de enfrentar as causas do problema?
Por que os habitantes dos guetos urbanos não sabem que poderiam viver em outros cidades que não tenham essas doenças cancerosas? E, o que é mais grave, por que quando uma criança desenha a cidade de seus sonhos não faz nada mais do que reproduzir imagens já existentes?
As razões para se mudar as cidades são primeiramente de ordem econômica. A cidade planejada, de Le Corbusier, era uma tentativa de criar uma cidade que surgia a partir da destruição de outra.
A rejeição da cidade ``histórica" levou os funcionalistas a tentarem inventar uma cidade. A cidade-subúrbio, resultado das leis de mercado, nos levou ao surgimento do subúrbio atual.
A cidade é uma grande infra-estrutura urbana que necessita com urgência de grandes inversões públicas para poder curar-se, para encontrar um nível de saúde, de qualidade de vida e, assim, converter-se em aquilo a que aspiram seus habitantes.
Apesar das diferenças entre as moradias dos Estados Unidos e da Europa, todo habitante deseja uma habitação melhor, um espaço maior e uma cidade mais vivível. Esse fenômeno se deve ao aumento constante dos preços da construção e dos modelos urbanos e arquitetônicos em moda.
Para remediar essa situação, o Estado deve intervir decididamente na cidade para implantar um projeto coletivo que diga respeito diretamente ao conjunto dos cidadãos, incidindo no mercado, que, com isso, ressurgirá renovado.

Tradução de Clara Allain.

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