| São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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'O domínio é do caos'
WILLIAM ECHIKSON
Em entrevista ao World Media, o arquiteto rebate críticas que questionam seu interesse maior pela forma escultural de seus prédios do que pelo seu aspecto funcional. É o caso de alguns locatários das moradias que ele construiu no sul da França. Eles reclamam das instalações hidráulicas ``defeituosas e malconcebidas". A seguir, os principais trechos. * World Media - Qual é a sua obra-prima? Jean Nouvel - É difícil. Tenho tendência a gostar das que têm mais dificuldades. World Media - Um imóvel deve obrigatoriamente integrar-se no bairro ou seu estilo pode ser diferente? Nouvel - Eu me pergunto sempre o que posso inventar de poético onde me encontro. A isso dou o nome de ``poética da situação". E o resultado é um contraste. Ora uma certa modernidade, ora uma ausência. Tome o exemplo da cidade de Bordeaux (sudoeste da França). Estou em cima de uma pequena colina que domina a cidade, onde me pedem para criar um hotel de 2.000 m2 ou 3.000 m2. Minha preocupação não é fazer nada de monumental. Tenho ali um vilarejo, utilizo predinhos agrícolas que já existem, planto videiras, crio pequenos elementos que se erguem, como os galpões de fumo da região. Finalmente, tudo integra-se, suavemente, com o que há em volta. Em seguida, de um outro lado, em Paris (França), faço algo com grades de 18 metros de altura e fachadas translúcidas maiores que os prédios, e me dizem: ``Isso não é possível, você está em Paris, no bulevar Raspail, vai colocar pedra de cantaria!" World Media - É a escola do caos? Nouvel - Não sou pelo caos. Constato simplesmente que o que aconteceu a nosso planeta, e à maioria de nossas cidades desde alguns decênios, é efetivamente o domínio do caos. Quer se trate do mundo industrial ou dos países em vias de desenvolvimento, a gente se vê diante de fenômenos imprevisíveis de crescimento urbano. World Media - O que o senhor pensa de Berlim, onde dizem que o objetivo é criar o século 19? Nouvel - O que faço mostra o que penso. ``O que ele diz, o que pensa, não importa, o que ele faz é que me interessa", dizia Jean-Paul Sartre. No caso em foco, construí em Berlim um imóvel que retoma a geometria da cidade, mas utilizando um material e uma luz muito particulares. Berlim não pode ser condenada a conservar os materiais pobres e estéreis do século 19. World Media - Qual a paisagem urbana que mais o agrada? Nouvel - Quando se é amante da especificidade, não há resposta para a questão. World Media - Qual sua reação quando dizem que gostam da estética do seus prédios, mas não de viver neles? Nouvel - Fico decepcionado. Tradução de Bertha Halpern Gurovitz. Texto Anterior: O século 21 é uma incógnita Próximo Texto: Berlim está em obras Índice |
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