São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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Cairo vive um paradoxo
SAYED KARIM
Ao mesmo tempo, considerada essa tendência, restaria um único habitante na cidade de Hurgada, às margens do mar Vermelho, apesar da região compreender 20% do território egípcio e ser rica em petróleo, pesca, fazendas e atrações turísticas. Com esse potencial econômico, poderia absorver 5 milhões de cidadãos. Como explicar o paradoxo? A migração das áreas agrícolas para regiões industriais produz queda nas safras. Junte-se a isso a deterioração de atividades como a pesca. Muitos deixaram suas aldeias e fugiram para as grandes cidades em busca de trabalho. O resultado fez com que o Cairo passasse de cidade produtiva a cidade consumidora, com taxa de desemprego de 20%. Em contraste, a população da capital da região do mar Vermelho, Hurgada, é de quase 20 mil pessoas. Esse número estava caindo havia dez anos devido à migração dos pescadores que deixavam a cidade em busca de trabalho. Meu plano era reverter esse processo. Estudos de viabilidade mostraram que o setor em que eu deveria inicialmente me concentrar era o de turismo. O turismo é a única indústria de porte que pode ser desenvolvida e financiada pela iniciativa privada. Por isso, o turismo tornou-se a principal fonte de renda de várias cidades mediterrâneas. Em Hurgada, cerca de 20 companhias locais e estrangeiras financiam a construção dos hotéis e vilas turísticas. Por meio de concorrência internacional, 2.500 apartamentos, casas, vilas e bangalôs foram construídos em três anos. Metade foi vendida antes de ser anunciada. Quando se trata de planejar cidades produtivas, caso desse amplo projeto para a cidade de Hurgada, o plano de habitação e desenvolvimento não pode se deter na industrialização do turismo. Habitação e desenvolvimento são dirigidos por uma política de produção e, graças a essas políticas, estimamos que a população na região do mar Vermelho chegará a 5 milhões no ano 2000. Esse aumento absorverá a densidade populacional ao longo da faixa do Nilo, faixa que está começando a encolher ao mesmo tempo que sua população aumenta. A experiência de Hurgada foi bem-sucedida e passou a ser aplicada a outras cidades turísticas. As lições são claras: o planejamento de cidades precisa combinar indústria e habitação. Para prosperar, as cidades precisam produzir mais do que consomem. No caso do Egito, essa é a única maneira de colonizar o deserto. Tradução de Lucia Boldrini. Texto Anterior: Cidade mescla genes e símbolos Próximo Texto: Dacar lembra navio sem rumo Índice |
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