São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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Dacar lembra navio sem rumo
EL BACHIR SOW
Janelas e portas dão em corredores onde mulheres cercadas de sua prole cozinham. Durante o dia todo, os odores se misturam aos perfumes e ao incenso. Os cômodos transbordam de gente e a música enche os andares. Paris dista 4.000 quilômetros. Em Dacar, capital do Senegal, aprende-se pouco a pouco a viver à moda vertical. Os prédios substituem antigas casas de madeira. Em 1988, no último recenseamento, a região de Dacar contava com 1,5 milhão de habitantes. Habitado por muitos neourbanizados, um imóvel que visitamos assemelhava-se a um navio sem rumo tendo como sinais de desespero, roupas multicoloridas dependuradas nas varandas. O aluguel de um quarto de 20 m2 custa cerca de US$ 30 e as despesas de eletricidade somam a cada dois meses US$ 3,50 para quem tem uma lâmpada. A eletricidade é um bem raro. Em Dacar, muitos preferem partilhar medidor e fatura. Um quarto de 20 m2 faz a felicidade de um celibatário ou de um estudante. Em Dacar, são famílias inteiras se contentam com isso. Crise econômica? Desemprego? Desvalorização? Má sorte! A gente os esconjura com as boas receitas de antigamente: amarrando um carneiro branco no pátio, por exemplo. Ovelhas e carneiros são amarrados embaixo de muitos prédios de Dacar. À noite, dizem, seus proprietários instalam seu gado nas varandas, terraço ou então na cozinha, ou ainda no banheiro. Tradução de Berta Halpern Gurovitz. Texto Anterior: Cairo vive um paradoxo Próximo Texto: Fez, vista por um apregoador Índice |
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