São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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Jerusalém não tem limites
MERON BENVENISTI
Diz um velho ditado hebreu que ``Jerusalém é a própria eternidade". O uso preciso, a pronúncia e a grafia do nome adquiriram significado quase religioso. A outra grande tribo que habita a cidade continua a chamá-la pelo nome árabe-muçulmano -al-Quds. O cabo-de-guerra sobre o nome e sobre a cidade estende-se no tempo e no espaço. Em 1996, Jerusalém vai comemorar os 3.000 anos de sua declaração como capital do reino de Davi. O argumento cronológico é duvidoso, mas o propósito da celebração é claro: fundamentar, no ato do rei Davi, a reivindicação israelense de controle exclusivo sobre Jerusalém. É uma tentativa de pular 3.000 anos até a anexação de Jerusalém, em 1967. Jerusalém é a expressão histórica tangível da religião judaica, bem como da independência e da soberania dos judeus. A própria Bíblia conta que as tribos nativas locais, semitas de ascendência árabe, mantiveram sua independência e cultura. Ao contrário da colônia judaica, que desapareceu de Jerusalém, a colônia árabe nunca deixou de existir. Os árabes lá ficaram e, a partir do século 7, as dinastias árabes-muçulmanas preservaram e desenvolveram a cultura árabe até a conquista britânica, em 1917. Para conquistar Jerusalém, exércitos entraram em guerra 40 vezes. Mas qual das conquistas dá direito ao controle da cidade? A do rei David, 1.000 anos antes de Cristo, ou a conquista israelense de 1967? A de Omar al-Khattab, em 638, ou a de Saladin, em 1167? Quem imprimiu sua identidade às pedras de Jerusalém? Hoje as fronteiras da cidade se multiplicaram cem vezes (de 1 km2 para mais de 100 km2) e abrangem muitos quilômetros além do território original. Os limites geográficos são arbitrários e refletem planos políticos e urbanísticos. Fronteiras elásticas produzem demografia elástica. Demografia, geografia e história são, portanto, questão de opinião. Jerusalém é um elemento central da noção israelense de nação e Estado. Para os israelenses, controlar a cidade significa controlar seu próprio destino. Mas eles sabem que jamais conseguirão convencer seus inimigos da pretensão de exclusividade sobre a cidade sagrada. Se pudessem falar, as pedras de Jerusalém, sem dúvida, zombariam dos dois lados. Ninguém pode imprimir à cidade, eternamente, sua identidade. Texto Anterior: Fez, vista por um apregoador Próximo Texto: Beirute renasce das ruínas Índice |
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