São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995 |
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Ásia faz um cara a cara com a Europa CATHERINE SEGAL * CATHERINE SEGAL; <UN->WILLIAN ECHIKSON
Juntos, arrebataram prêmios na Itália e no Japão. Este ano, participam de uma conferência na China patrocinada pela Associação Internacional de Críticos de Arte. Reunidos pelo World Media, eles falam das alegrias e dificuldades de suas colaborações transcontinentais -e da diferença entre as abordagens asiática e européia. A seguir, os principais trechos: * World Media - Comenta-se que os asiáticos demolem e reconstroem suas cidades. É verdade? Renzo Piano - O Japão só atinge a permanência através da reconstrução. Quando você vai a Roma e toca o Coliseu, a pedra é a mesma que estava lá há 2.000 anos. Quando você toca os templos em Kyoto, o pedaço de madeira não é o mesmo. Foi refeito pelo menos cinco vezes. Susumu Shingu - Na realidade, eles reconstroem os mesmos templos a cada 70 anos, não porque tenham sido destruídos, mas por uma questão de princípio. World Media - No Japão, as ruas à noite são sagradas: são um grande monumento ao efêmero. Como isso afeta os estilos arquitetônicos? Piano - Pode-se dizer que a Europa é a cultura da massa, da permanência e da eternidade. Já o sudeste asiático, e também a costa oeste dos Estados Unidos, se caracterizam pela leveza. Shingu - Quando fui pela primeira vez à Itália, 35 anos atrás, meu primeiro choque cultural foi perceber que tudo era construído de pedras maciças e estava de pé há milhares de anos. Mas achei tanto a comida quanto a arquitetura pesadas demais para mim. Foi por essa razão que passei a trabalhar com escultura cinética. Também compreendi que os japoneses têm uma sensibilidade especial. No Japão, as casas tradicionais são projetadas para serem ajustáveis às mudanças das estações. Piano - Fala-se muito da pompa da cultura européia. Em lugar disso, poderíamos falar na humildade da cultura asiática. Seus monumentos competem contra o tempo, não com força ou massa, mas com espírito. É claro que tudo isso se perdeu nas construções modernas que vêm sendo erguidas nos últimos 30 anos. O que sobrou é um prazer -um tanto quanto perverso em refazer tudo pelo dinheiro. Nas cidades japonesas, os terrenos são valiosos demais. World Media - É realmente possível uma cidade esquecer seu passado? Piano - - Passei uma semana em Kyoto falando sobre isso. O prefeito me perguntou: ``Devemos demolir essa parte da cidade?" Falei, espantado: ``O senhor deve estar louco!". Você jamais verá o prefeito de Berlim ou Paris perguntando: ``O que você acha, posso demolir o Marais?" World Media - Como seria sua cidade ideal? Piano - Uma cidade antiga. Shingu - Ainda não construímos minha cidade ideal. Vivo fora da cidade porque acho que precisamos de espaço, água e vento. Consigo aceitar a proximidade da cidade porque vivo fora dela. Tradução de Clara Allain. Texto Anterior: O futuro está nas "edge cities" Próximo Texto: Metropolitan x Louvre Índice |
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