São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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'Sou contra os pastiches'

"Não há razão para erguer quarteirões barrocos no séc. 20"

SASKIA REILLY
DO WORLD MEDIA

Richard Rogers, 62, mestre britânico do ``high-tech", é mundialmente conhecido pelo prédio do Lloyd's (Londres/Inglaterra) e pela participação no Centro Pompidou (Paris/França). Atualmente, está projetando a controvertida Postdammer Platz (Berlim/Alemanha) e a Corte Européia de Direitos Humanos (Estrasburgo/França).
Questionado pelo World Media sobre seu estilo, ele rebate a afirmação de que constrói espaçonaves que aterrissam indistintamente e arruinam bairros tradicionais.
A seguir, os principais trechos.
*
World Media - Qual é sua obra-prima?
Richard Rogers - A casa que projetei para os meus pais.
World Media - Qual é sua relação com o Lloyd's? É mesmo uma espaçonave que aterrissou no centro de Londres?
Rogers - O Lloyd's pode parecer uma nave espacial, mas tem uma relação de simbiose com a vizinhança. É uma instituição mais inglesa, voltada para si mesma. Ele aprisiona a sombra.
World Media - Sendo uma instituição tão inglesa, o Lloyd's poderia ser construído nos Estados Unidos?
Rogers - Nos Estados Unidos, é difícil construir qualquer coisa que não seja um produto padrão. A atitude predominante é a de buscar a maior construção possível com o mínimo possível de dinheiro. E qualquer coisa diferente custa o dobro.
World Media - O sr. gostaria de ser um Le Corbusier ou um Oscar Niemeyer e projetar uma cidade inteira?
Rogers - Fiz um grande projeto para a extensão de Xangai (China), para alojar meio milhão de pessoas. Agora trabalho em povoados ``auto-sustentáveis" em Maiorca (Espanha). Quer dizer, capazes de gerar sua própria energia.
World Media - Como vai o trabalho na Postdammer?
Rogers - O projeto é ambicioso. Mas o urbanista responsável pela cidade (Hans Stimman) acha que Berlim é uma cidade barroca e que devemos construir cidades barrocas no final do século 20.
World Media - Então fica difícil concordar com a visão do príncipe Charles.
Rogers - Não é fácil ter uma discussão democrática com um príncipe. Nos dias de hoje, não se pode planejar ruas segundo os padrões do tempo das carruagens e dos cavalos. Um dos avanços mais espetaculares dos últimos cem anos foi o do automóvel.
Vislumbro outra mudança tremenda no século 21. Hoje temos uma visão global. Queremos controlar a poluição e os estragos que fazemos ao nosso planeta. Não vejo nenhuma razão para construir quarteirões barrocos ou pastiches renascentistas.

Tradução de Lucia Boldrini.

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