São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995 |
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Anúncio evita a dramatização
LUÍS NASSIF
Deixou-se de lado aquele imenso mercado persa que caracterizou planos anteriores -onde se misturavam medidas de estabilização com um sem-número de projetos desengavetados às pressas, para dar idéia de um pacote abrangente. Mudaram-se apenas aqueles itens diretamente relacionados com indexação, que teriam que ser alterados com o final do prazo da MP do real. Apesar de poucas, as medidas são drásticas, no sentido de perseguir o que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, definiu como "nominalização da economia -ou seja, deixar-se de lado os índices para se fixar nos valores nominais dos preços e dos contratos. Há inúmeras dificuldades pelo caminho: Poupança - O governo optou por criar uma espécie de recibo de depósito bancário casado com a funcionalidade da poupança. Essa nova aplicação terá prazos maiores (a partir de 60 dias, segundo a MP, e de 90 dias, segundo as explicações verbais) e será corrigida pela Taxa Básica Financeira -que é a TR (Taxa Referencial de Juros) sem o redutor. Toda essa ginástica visou alguns objetivos conflitantes. De um lado, o governo quer flexibilizar a velha poupança, acabando com o engessamento das aplicações que caracteriza a poupança tradicional. Não se poderia aumentar os juros da poupança sem aumentar o custo dos financiamentos em curso. Nem se poderia salgar a TR sem pressionar a dívida pública. A saída foi segregar os mercados. A TR (com redutor) servirá para correção de contratos, inclusive da dívida pública não-financeira. A TBF pretende ser a taxa básica da economia. O Banco Central vai manipular (no bom sentido) o redutor da TR, como maneira de manter os depósitos de poupança nos níveis desejados. Como isso será feito é incógnita. A solução encontrada para evitar maiores descasamentos é permitir que sejam captadas linhas de crédito em dólar. SFH - O reajuste das prestações do SFH, pela equivalência salarial, somente poderá ser efetuado uma vez por ano. Os saldos devedores serão reajustados mensalmente (acompanhando a periodicidade e índices da poupança). Esse descompasso vai ampliar os rombos do Fundo de Compensação das Variações Salariais. Até agora o BC não pensou em maneiras de contornar esse problema. Resíduos - Se os salários forem depender exclusivamente das fórmulas definidas pela equipe econômica, no próximo dissídio haverá perdas. O resíduo acumulado, a ser incorporado automaticamente aos salários na data do dissídio, contemplará apenas o IPC-r acumulado da última data-base até junho. Em julho ter-se-á uma inflação mais acesa, que poderá ser ampliada pelas correções nas tarifas públicas federais. Montar rapidamente a estrutura adequada para a livre negociação será o grande desafio do governo, empresas e sindicatos. Se não, no segundo semestre, ao aperto recessivo que se prenuncia, ainda haverá muito tiroteio entre trabalhadores e empresas. Texto Anterior: Aluguéis terão correção anual pela inflação Próximo Texto: Governo não aceitará pressões, diz Malan Índice |
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