São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Medida aponta para programas de administração e gerência

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Com a nova medida provisória, o governo cravou as principais bases do Plano Real, que terá agora uma sequência curiosa: de um lado, a administração rotineira da conjuntura; de outro, as grandes reformas econômicas.
Não há mais o que inventar. Passou a era da criatividade, entra o tempo da administração e gerência. Não é mais fácil, é apenas diferente.
Na conjuntura, o governo brasileiro, basicamente por intermédio do Banco Central, terá que gerenciar a redução dos juros e das restrições ao crédito. Isso tudo acompanhando uma suave valorização do dólar.
A medida aí será o grau de aquecimento da economia e os índices de inflação.
Economia desaquecida e inflação em queda, caem os juros e sobe o dólar.
As previsões são de que isso ocorre mais claramente no final de julho, início de agosto.

Privatizações
O outro lado da política econômica estão os ``megaprojetos", como os chama o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco. E esses ``megaprojetos" começam com as privatizações.
Permitidas pelas emendas constitucionais votadas na Câmara dos Deputados e em votação no Senado, as privatizações precisam agora ser concretizadas.
Mas o programa é tão ambicioso quanto difícil.
As novas privatizações abrangem o setor de serviços públicos: telecomunicações, petróleo e combustível e energia elétrica.
Não se trata de simplesmente vender uma siderúrgica, mas de conceder a uma companhia privada a operação de um serviço ao público.
Isso exige investimentos muito mais pesados e, em consequência, exige que o governo fixe regras claras garantindo o negócio e os interesses do consumidor.

Reformas
Além disso, o governo terá de se ocupar, no segundo semestre, das grandes reformas que envolvem diretamente o setor público: tributária, administrativa e previdenciária, todas exigindo mudanças na Constituição.
Até aqui, o governo conseguiu tocar o programa de estabilização com um equilíbrio precário e provisório nas contas públicas.
Ou seja, o ajuste fiscal para valer foi sendo adiado.
Agora, é a hora dele. E esse é o assunto preferencial do ministro do Planejamento, José Serra. É o comentário que se ouve nos bastidores do governo, em Brasília: o primeiro semestre foi Malan; o segundo é Serra.
Mas o ministro da Administração, Luis Carlos Bresser Pereira, arranjou seu espaço.
Bresser Pereira conseguiu colocar na agenda imediata a reforma do Estado, preparando um bom projeto e convencendo o presidente Fernando Henrique Cardoso e lideranças políticas de sua viabilidade.
O projeto de reforma do Estado vai ao Congresso em agosto.

Bancos
Finalmente, no segundo semestre, o governo FHC não poderá mais adiar a solução para os bancos estatais estaduais.
Alguns estão quebrados, todos estão em dificuldades, todos drenam dinheiro público.
Pelo Banco Central, todos seriam privatizados.
Mas como é assunto politicamente explosivo, vai para a mesa do presidente.
E o primeiro caso a resolver é justamente o mais difícil, o do Banespa, o maior banco, o mais quebrado e que coloca o tucano Mário Covas contra o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Como se vê, o Plano Real andou bem, mas mal começou.

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