São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Governo reduz rendimento da caderneta

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo reduziu ontem os rendimentos da poupança e baixou, de R$ 19.218 para R$ 5.000, a garantia oficial aos poupadores em caso de liquidação do banco onde está depositado o dinheiro.
A queda dos rendimentos da poupança foi um efeito colateral da determinação, feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso à equipe econômica, de reduzir a TR (Taxa Referencial) para beneficiar os endividados.
Como a TR que corrige as dívidas bancárias é a mesma que remunera a poupança, as cadernetas saíram prejudicadas com as medidas anunciadas ontem.
A partir de 1º de agosto, o redutor aplicado à média dos juros de mercado no momento do cálculo da taxa subirá de 1% para 1,2%, conforme a Folha antecipara.
Não se trata, a rigor, de uma grande perda para os poupadores e nem de um grande alívio para os devedores. A mudança de cálculo produzirá uma TR 0,2% menor.
Por exemplo: uma TR que hoje é fixada em 3,5% ficaria, com o novo cálculo, em 3,29%, ainda acima da inflação. A mesma diferença seria verificada no rendimento da poupança e na correção das dívidas.
Os ministros Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Planejamento) se esforçaram ontem em repetir que a poupança não terá perda. ``Não haverá nenhum prejuízo. Nenhum, nenhum, nenhum", disse Serra.
O ministro preferiu ressaltar que a redução da TR beneficiará devedores, como FHC fizera em cadeia de rádio e televisão anteontem. ``Temos que eliminar o caráter superindexador da TR para as pessoas que tem dívidas".
A redução da garantia que o governo dá aos poupadores foi explicada pelo presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, como ``uma volta ao espírito original da poupança".
Segundo este raciocínio, a poupança foi criada como uma opção para o pequeno investidor e este deve ser protegido. O limite de R$ 5.000, disse Loyola, protege 98% dos depositantes em poupança.
Dados dos bancos que operam em poupança apontam, porém, que os 2% restantes respondem por mais de 40% do total de dinheiro aplicado.
Os números do BC, atualizados até dezembro do ano passado, são ainda mais expressivos. Apontam que 2% dos poupadores detinham, então, 48% do total aplicado.
A atração de grandes investidores pela poupança -considerada ontem uma distorção da vocação original da caderneta- é um efeito da criação da TR, criada em 91, que o governo optou por manter.
A TR tornou a poupança praticamente tão rentável como os CDBs e as demais aplicações, com a vantagem de ser isenta de impostos. Até a criação da taxa, a poupança tradicionalmente era corrigida por índices de preços.

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