São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Criada em 64, correção foi absorvida por toda economia

FÁTIMA GONÇALVES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A correção monetária foi criada em 1964 para permitir que o governo se financiasse sem emissão de moeda, mas acabou se transformando em verdadeiro vício da economia brasileira.
Ela era o principal item da política econômica do governo Castello Branco, o primeiro depois do movimento militar que derrubou João Goulart no mesmo ano.
A orientação econômica do país era dada pelos ministros Roberto Campos (Planejamento) e Otávio Bulhões (Fazenda).
Outras medidas, como o corte nas despesas das empresas estatais, também foram tomadas para tentar estabilizar a economia brasileira.
Mas foi a correção monetária que se tornou a marca registrada da dupla Campos/Bulhões.
Hoje, Roberto Campos afirma que a medida era necessária e adequada quando foi implantada. Segundo ele, passados 30 anos o mecanismo se tornou inflacionário.
As empresas absorveram o mecanismo para corrigir seus balanços, pois ao reajustar suas despesas, conseguiam uma equivalência no valor dos impostos pagos a cada ano -em relação a suas receitas (automaticamente reajustadas pela inflação).
O mercado financeiro também passou a utilizar a correção para remunerar aplicações e, assim como o governo, atrair investidores.
O sistema acabou se generalizando por toda a economia. Os salários, entretanto, foram submetidos a um cálculo misto.
Esse cálculo previa parte da inflação passada e uma projeção -além de ganhos relacionados com o desempenho das empresas.
Nos últimos anos, a indexação se popularizou com as aplicações financeiras com liquidez diária, como é o caso dos fundões.
Nesta segunda fase do Plano Real, o governo pretende acabar com a indexação generalizada na economia, alongando o prazo das aplicações financeiras.
O governo quer impedir que os contratos -como salários e aluguéis- sejam reajustados em períodos inferiores a um ano.
Ao explicar as razões da nova MP, os ministros da área econômica do governo FHC ressaltaram que ``é preciso desmontar o perverso mecanismo da indexação, que permite ao passado condenar o futuro, ou seja, a inflação de amanhã ser causada pela inflação de hoje, e a de hoje pela de ontem".
(FG)

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