São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Novas vozes disputam por individualidade

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Se os artistas de cinema e TV têm problemas para marcar um rosto (e torná-lo famoso) imagine alguém que quer marcar sua voz. Três lançamentos recentes trazem cantoras determinadas a chegar lá, no nirvana dos timbres de sucesso, que bastam soltar um pio para vender milhões de CDs.
Só que essa distinção é complicada -pelo menos no primeiro contato. Faça uma experiência. Pegue esses três álbuns: ``Wild Seed - Wild Flower", de Dionne Farris, ``What Silence Knows", de Shara Nelson, e ``Thouguer than Love", de Diana King.
Coloque-os em um aparelho de CD com bandeja que comporta três discos, aperte a tecla ``shuffle" (que faz ao acaso uma seleção da série de faixas e dos CDs a ser tocada) e veja se você consegue fazer a relação entre música e voz. Não é simples.
Esse susto da despersonalização das vozes, no entanto pode ser quase desfeito em uma segunda ou terceira audição. O único porém aí é que as três cantoras acabam sendo reconhecidas, mas mais pelo estilo das músicas de seus álbuns do que (ironicamente) pela voz.
Mas talvez esse método de ouvir as três cantoras de uma vez só seja cruel demais. Pode ser que em um estudo caso a caso elas acabam se dando melhor. Vejamos.
Tanto Dionne Farris quanto Shara Nelson já andaram costurando para fora.
Ferris emprestou sua voz para o atordoante sucesso de três anos atrás da música ``Tennessee", do Arrested Development.
Essa é aquela banda de rap cheia que se lançou bem, mas infelizmente o universo do pop exigiu mais da banda do que boas intenções -deixando-a à deriva com seu segundo (e execelente) álbum ``Zigalamundi".
E Shara Nelson foi musa suprema do primeiro disco do Massive Attack (de Bristol, Inglaterra), que agora, sem Shara, é a queridinha das pistas de dança modernas.
Sozinhas, as duas se viram bem. Farris tem nas mãos um excelente ``single": ``I Know", tão poderoso quanto uma releitura de ``Black or White" (Michael Jackson) feita por Tracy Chapman.
Aliás, ela tem mais coisas nas mãos: um clima estranho em ``Food for Though", um ``hit" em potencial em ``11th Hour" e uma versão interessante de ``Blackbird", dos Beatles.
A Shara Nelson coube a herança ``cool" do Massive Attack (que contribui em algumas faixas do seu álbum solo) e pelo menos duas faixas poderosas: ``Nobody" e ``Down that Road". E seu álbum é daqueles de ouvir sem se cansar.
Quanto à Diana King... bem, ela não passa vergonha. Em uma comparação como essa, ao lado de potenciais como Farris e Nelson, ela sai com larga desvantagem. Não é de todo má, porém.
Quando a palavra ``love" (``amor" em inglês) aparece em quatro títulos de um álbum de 11 faixas, já dá para começar a desconfiar: será que ela quer ser a nova Whitney Houston?
Não é bem assim. King busca um pouco mais de credibilidade que Houston -ainda bem. Mas aí, você depara com uma versão de ``Ain't Nobody" (clássico ``imexível" de Rufus e Chaka Khan) e sua desconfiança aumenta.
Mas o pop é feito de risco. Se você estiver a fim, adiante.

CD: What Silence Knows
Cantora: Shara Nelson
Gravadora: Chrysalis/EMI
CD: Wild Seed - Wild Flower
Cantora: Dionne Farris
Gravadora: Columbia/Sony
CD: Thougher than Love
Cantora: Diana King
Gravadora: Columbia/Sony
Preço médio do CD: R$ 20

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