São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Ex-refém Harley Alves chega e nega título de herói

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA EM BELO HORIZONTE

O capitão brasileiro Harley Alves, 36, que passou 23 dias como prisioneiro dos sérvios na Bósnia, rejeita o título de herói nacional. ``Poderia ter acontecido com qualquer outro", afirmou ele ontem de manhã, ao desembarcar no Brasil.
``Não me considero herói. Quem tem de analisar isso são vocês (jornalistas). Mas, se eu for algum tipo de herói, serei tanto quanto os meus companheiros que estão lá (na Bósnia). O que aconteceu comigo foi uma casualidade", afirmou o capitão.
Alves desembarcou em São Paulo às 5h50 de ontem, num vôo que saiu de Frankfurt, na Alemanha. Ele é um dos militares brasileiros observadores da ONU na Bósnia.
Alves se disse satisfeito por retornar ao Brasil, que definiu como ``o melhor país do mundo". Ele deve ficar no país por 12 dias, aproveitando uma folga. Depois, volta para a Bósnia, onde fica até o fim de sua missão, em setembro.
Segundo ele, um dos momentos de maior emoção no cativeiro foi o primeiro contato telefônico com a sua mulher, alguns dias após ser capturado pelos sérvios.
Alves disse que não foi maltratado pelos militares sérvios. ``Era um tratamento de soldado para soldado", afirmou.
Para ele, os primeiros dias nas mãos dos sérvios foram os momentos de maior tensão, quando chegou a temer a morte. Alves passou os seis primeiros dias algemado a outros prisioneiros, servindo como escudo humano.
O capitão foi recebido como herói ao chegar a Belo Horizonte (MG), onde vive sua família. Ele participou de um desfile de tropa em sua homenagem no 12º Batalhão de Infantaria do Exército.
Alves se reencontrou com seus familiares no aeroporto de Confins, onde desembarcou às 10h35.
Ao abraçar a mulher, Eliane, 34, e as filhas, Natasha, 7, e Amanda, 4, o capitão chorou. Na saída, ele foi aplaudido pelas pessoas que se estavam no saguão do aeroporto.

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