São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Os intelectuais e o poder

CARLOS HEITOR CONY

Parece que os quadros do PT estão em baixa. Caiu o número de filiados, mas essa queda é boa para o Partido dos Trabalhadores. Provavelmente, o PT está perdendo os intelectuais que agora estão aderindo ao neoliberalismo do governo.
A única postura que eu entendo, para o intelectual, é a solidão. Ele deve ficar, permanecer e se gratificar por estar sozinho. Como elemento tribal, o indivíduo abdica do diferencial que o torna consumidor ou produtor de inteligência. Vai na onda, pensa e age de acordo com as palavras de ordem que recebe de uma direção central que no fundo o despreza, pois só respeita o poder.
Os intelectuais que se agarraram ao PT (e à esquerda de maneira geral) de forma partidária, de carteirinha, tal como aqueles que se amarraram ao velho Partidão, sempre ficaram numa posição constrangedora. Era hábito, na esquerda francesa, o médico, o advogado, o escritor nascido na burguesia assinar a ficha partidária como ``operário", alegando que tinha um avô ou bisavô na classe operária. A tanto chega o ridículo ideológico.
O PT deve estar perdendo os intelectuais que a ele se filiaram pensando que estavam na via mais rápida que leva ao poder. Tal como o intelectual FHC, que sempre namorou o PT, querem apenas a pista livre para chegar lá. Cansados de esperar pelo ``vento" da história, nada mais fácil para eles do que negar Pilatos, que sustentou o que havia escrito.
A respeito de Pilatos: falam muito na bacia em que lavou as mãos -atitude típica do intelectual que perguntou a Cristo o que era a verdade. Mas, quando lhe pediram para retirar a inscrição que ele mandou botar na cruz, a resposta foi: o que escrevi, está escrito. Foi um ancestral dos bicheiros do Rio. Seu nome é repetido todos os dias por milhões de pessoas que rezam o credo. Sozinho, ele acertou na mosca. No meio da tribo, foi cúmplice de um crime.

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