São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Bases do PSDB migram para o Nordeste

DA REDAÇÃO

As bases do PSDB estão migrando para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Hoje, 50% dos 84 congressistas do partido provêm dessas regiões.
Quando o partido foi criado, a proporção de tucanos dessas regiões não atingia um terço: a grande maioria (67,3%) se concentrava no Sudeste e Sul.
Essa migração reflete a transformação da legenda, que deixou de ser oposição para se tornar governo. Desde o Império, as bancadas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste são tradicionalmente mais ``governistas", porque esses governos estaduais são os que mais dependem das verbas do Executivo federal.
À medida que se integra ao governo, o PSDB caminha para o norte, adquirindo um perfil mais próximo ao do PFL, seu aliado.
A pefelização do PSDB pode ser comprovada não apenas pela incorporação de muitos ex-arenistas ao partido, mas também pela incorporação do programa do PFL: o PSDB abandonou suas antigas bandeiras para defender propostas neoliberais. Até o parlamentarismo foi esquecido pelo partido, que, ao chegar ao poder, se adaptou bem ao presidencialismo.
O PSDB surgiu em 1988 de uma dissidência do PMDB, que fazia oposição tanto ao presidente José Sarney como a alguns governadores do PMDB, principalmente da região Sudeste: Orestes Quércia (SP), Newton Cardoso (MG), Moreira Franco (RJ).
A expressão política desse oposicionismo era a defesa intransigente do parlamentarismo como sistema de governo, que passou a constar do programa do partido.
Os resultados obtidos nas eleições municipais daquele ano mostram as raízes regionais do partido: o PSDB só venceu em uma capital (Belo Horizonte) e duas cidades importantes -Bauru (SP) e Contagem (MG) -todas no Sudeste.
O perfil do partido começa a mudar em 1990. O primeiro sinal foi a adesão, em janeiro, do governador Tasso Jereissati (CE) e de seu grupo político ao partido.
Em outubro, o PSDB sofre uma grave derrota, e sua bancada na Câmara cai para 38 deputados. A proporção de parlamentares do Sul/Sudeste diminui para 58,3%, em parte pela vitória no Ceará.
O principal resultado da eleição foi o enfraquecimento da esquerda do partido, cujos integrantes não conseguiram se reeleger, e o fortalecimento da ala conservadora.
Começam então as pressões para que o partido passe a apoiar o governo de Fernando Collor. O PSDB se divide. Alguns tucanos, como Hélio Jaguaribe e Celso Lafer, passam a integrar o ministério, mas o partido decide não aderir à base collorida.
Com a queda de Collor em 1992, porém, o PSDB passa a integrar o governo Itamar Franco. Nesse período, o partido se fortalece no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Pesquisas Datafolha mostram que a identificação do eleitorado com o PSDB no Nordeste subiu de 2,4% em 1991 para 5,1% em 1992; no Norte/Centro-Oeste, foi de 1,2% para 3,0%.
Os resultados eleitorais refletem esse crescimento. Nas eleições de 1992, o partido vence em cinco capitais, sendo quatro no Norte e Nordeste (Salvador, Teresina, Macapá e Porto Velho) e apenas uma no Sudeste (Vitória).
Em 1994, o partido cresce em quase todo o país, mas a expansão no Norte/Nordeste é maior -nessa área, o PSDB conquista três governos (Ceará, Sergipe e Pará).
Apesar de vencer a eleição para governador (no segundo turno) em São Paulo, Minas Gerais e Rio, a proporção de parlamentares do Sul/Sudeste cai para 50%, empatando com o bloco nortista.
Nos primeiros seis meses de governo FHC, o PSDB recebeu várias adesões, mas a proporção se manteve.
A transformação do partido se manifesta no descompasso entre o programa tucano, que ainda guarda alguns resíduos da linha social-democrata, e as diretrizes do governo, que pauta sua prática pela orientação neoliberal do PFL.
Esse antagonismo ficou claro na votação das emendas que quebravam os monopólios estatais. Criticado por votar contra as propostas de FHC, o deputado Domingos Leonelli (PSDB-BA) rebateu as críticas de que era um dissidente.
``Eu apenas cumpro o programa do meu partido", afirmou.

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