São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Microempresário é o típico inadimplente do pós-real

As dívidas de Mian vão do pré-datado ao atraso no aluguel

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O microempresário paulista Roberto Mian, 38, é um inadimplente típico dos tempos do real.
Dono de uma pequena fábrica de brinquedos de plástico em São Paulo, a Mian, ele tem dívidas no posto de gasolina, no mercado, com fornecedores de materiais plásticos, além de diversos cheques já protestados por seus credores.
``Simplesmente não deu para pagar nada", diz Mian, 38.
A sua inadimplência (atraso de pagamento) começou no início do ano, quando os cheques de seus clientes começaram a voltar, a maioria pré-datados sem fundos.
Ele diz que clientes antigos, que nunca deixaram de pagar suas dívidas, passaram a atrasar as contas e telefonar dizendo que não tinham dinheiro.
``Sem receber dos clientes, o meu caixa ficou totalmente atrapalhado e sem fundos. Aí, eu fiquei sem condições de quitar meus compromissos", afirma.
As vendas, conta, caíram até 50% de janeiro a maio. ``As vendas costumavam estourar nas festas juninas e, neste ano, eu vendi muito pouco, praticamente nada."
Ele conta que até o aluguel de R$ 200 de sua casa está atrasado há dois meses.
A imobiliária Porto Seguro já colocou a dívida em protesto e ele aguarda a intimação da Justiça para quitar os aluguéis em atraso, acrescidos de juros e das despesas judiciais. Se não conseguir pagar, ele vai começar a sofrer uma ação de despejo.
``O juro alto atrapalhou tudo e as pessoas ficaram sem conseguir pagar as suas contas", diz Mian.
Nas últimas quinta e sexta-feira, ele foi ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Associação Comercial de São Paulo para saber quantos títulos seus e da sua mulher já foram protestados.
Ele diz que, como a inadimplência está generalizada na economia, as pessoas estão começando a renegociar as dívidas.
``A situação está ruim para todo mundo", diz Mian.
Nos casos dos títulos já protestados (ele não sabe estimar o valor das dívida, mas diz que é alto), ele tem tentado pagar ``o que dá".

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