São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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População muda o modo de conviver com dinheiro

Vendedora acha que a vida melhorou depois do plano

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Flormaira Heredia, 23, tem um sorriso tão exótico quanto o nome. Toma conta de uma barraquinha de mel no Viaduto do Chá, centro de São Paulo, e diz que o Real aumentou seu faturamento e diminuiu suas dificuldades de troco.
``Como só custa R$ 1,00 cada garrafinha de mel, parece que é barato e as pessoas compram mais", diz com sotaque de peruana, no Brasil há seis anos.
Ela diz que sobrou dinheiro para comprar uma máquina de lavar roupa e para alugar uma casa, para onde mudará tão logo marque a data do casamento.
Seu noivo também está ganhando mais. Até comprou uma câmera de videocassete e eletrodomésticos para a nova casa.
José Cílio César, 53, é deficiente físico (perdeu a metade do braço esquerdo numa serralheria do Paraná) e vende fichas, cartões telefônicos e cigarros por unidade.
``A nova moeda é boa porque parou de subir as coisas, mas o nosso presidente deixou os preços muito altos e está tudo muito caro", diz, convicto.
Afirma que a mulher e os seis filhos estão hoje consumindo alimentos de qualidade inferior do que tinham há um ano e que ele, por falta de dinheiro, tem visitado bem menos seus pais, no interior de São Paulo.
Seu estoque de fichas da Telesp é vendido, segundo ele, a uma velocidade menor. Quanto aos cigarros, ``o povo está fumando menos e mais espaçado".
Diz não acreditar que seus clientes de há um ano tenham hoje condições de comprar um maço inteiro de cigarros, em lugar de comprar por unidade, por R$ 0,10 ou R$ 0,15, dependendo da marca.
``É porque o presidente deixou os preços subirem e a vida ficou mais difícil", diz.
Israel de Jesus Costa, 33, não concorda. Seu nome artístico é Mímico Sombra e ele, com o rosto maquiado de branco e vermelho, é um dos saltimbancos do centro.
``No começo, cheguei a ganhar de uma vez R$ 50,00 depois de uma apresentação na porta de um restaurante em Vila Madalena", diz, com orgulho.
As pessoas se acostumaram depois com o valor das moedinhas e agora dão bem menos.

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