São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Para sindicalistas, Real segura inflação

Mas os salários continuam baixos

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Real segurou a inflação e, com isso, trouxe alguma proteção ao poder de compra.
A avaliação foi feita pelos dirigentes da Central Única dos Trabalhadores e da Força Sindical ouvidos pela Folha.
Mesmo os mais críticos com relação ao plano, como é o caso do coordenador da Federação Única dos Petroleiros, Antônio Carlos Spis, concordam que o Real está conseguindo manter a inflação baixa por um período de tempo superior aos outros programas de estabilização já adotados no país.
``Para a categoria petroleira, no entanto, só houve prejuízos", disse o coordenador da FUP.
Os petroleiros fizeram nada menos do que quatro greves durante o primeiro ano do Plano Real -uma entre 5 e 7 de julho de 94, outra entre 27 de setembro e 6 de outubro, outra de 23 a 25 de novembro e a última, de 30 dias, até o dia 2 de junho deste ano.
Apesar disso, eles não conseguiram nada além do previsto na lei salarial: 13,54% de reajuste, contra uma inflação de 32,88% no primeiro ano de Real.
``Nosso acordo, feito no ano passado, foi desrespeitado e continua a recusa do governo em negociar", afirmou.
Também não conseguiram barrar a aprovação, na Câmara dos Deputados, do fim do monopólio do petróleo.
A CUT, central à qual a FUP é filiada, aprovou em sua reunião da direção executiva documento intitulado ``Um ano de Real: ausência de políticas sociais e truculência contra os trabalhadores".
As críticas são inúmeras.
``Não basta ter o poder de compra protegido pela inflação mais baixa: é preciso distribuir renda, gerar riqueza, produção e emprego", disse Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT.
Para ele, a inflação baixa foi sustentada com juros altos, arrocho de salários de muitas categorias e dólar supervalorizado.
``Diferentemente do que esperávamos, não houve mudança na política tributária nem geração de emprego", disse Vicentinho.
Ele considera que as contratações feitas até agora na indústria foram consequência da ``bolha de consumo inicial" decorrente da redução da inflação.
``Agora já vemos um quadro de férias coletivas, demissões, inadimplência e juros altos", disse.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, diretor da Força Sindical e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, concorda que os juros altos podem trazer desemprego e recessão. Mas acredita que o governo deve reduzi-los em breve.
Ele defende o plano e acha positivo o fato de o emprego ter crescido ``pelo menos até abril" nas indústrias de São Paulo.``Mas os salários continuam baixos e serviços e aluguéis tiveram altas superiores à inflação".

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