São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Índio da Amazônia é favelado na cidade

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Cerca de 10 mil dos 97.705 índios do Amazonas ``migraram" nos últimos anos da floresta para as cidades do Estado e estão vivendo hoje como favelados, em condições de miséria, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio).
Os índios estariam deixando suas aldeias atraídos pelo estilo de vida nos centros urbanos e também devido a pressões exercidas pelos madeireiros e garimpeiros, que invadiram suas terras.
Os madeireiros e os garimpeiros são considerados ``invasores" das reservas indígenas pela Funai e, quando localizados, são retirados das áreas.
``Os invasores estão destruindo a fauna e a flora, dificultando a vida dos índios", afirmou o administrador regional da Funai, Raimundo Serejo.
A Funai não concorda com a ``migração" dos índios de suas reservas para as cidades, mas a fundação diz que não tem como impedir que eles saiam da floresta.
Na cidade, os índios encontram mais dificuldades para viver do que se estivessem em suas aldeias. Segundo Serejo, os homens, por não possuírem documentos, não encontram emprego e vivem de serviços temporários.
As mulheres têm conseguido trabalho como empregadas domésticas, ganhando em média um salário mínimo por mês (R$ 100).
Segundo Serejo, sem dinheiro e sem qualquer possibilidade de ter condições mínimas de vida em cidades como Manaus, que tem 1,5 milhão de habitantes, os índios acabam indo morar em favelas.
Na favela Área Verde, 54 índios da nação sateré-mawé tentam se adaptar à vida urbana. São dez famílias que moram em barracos.
Os índios sateré-mawés são originários da região do Amazonas, onde existe o município de Parintins, na fronteira do Estado com o Pará, a 370 km de Manaus.
Segundo a Funai, os sateré-mawés são uma das 93 etnias (grupos populacionais) indígenas que vivem em todo o Estado do Amazonas.
Tereza Sateré, 80, cujo nome indígena é Haree, é a matriarca (chefe) da família. Ela vive atualmente em Manaus.
Tereza conta que era casada com o ``tuxaua" (chefe) da aldeia Monte Alegre, Abida Sateré. Há oito anos, o marido de Teresa morreu.
Ela então resolveu se mudar para Manaus com os oito filhos. Eles dizem que não conseguiam mais viver da roça de mandioca e da caça e a pesca na reserva.
Em Manaus, a família ocupou uma área de vegetação nativa dentro do condomínio Santos Dumont, onde existem casas de classe média.
No local, montaram seus barracos. A área ocupada era destinada pelo condomínio a um bosque.
Para Zenilda Sateré, 38, presidente da Associação das Mulheres Sateré-Mawé, as maiores dificuldade enfrentadas pelos índios são a discriminação e a ameaça de expulsão das favelas onde vivem.
Ela conta que vários integrantes da tribo já foram vítimas de agressões por moradores de uma favela próxima, habitada por não-índios.
Segundo ela, seu filho, Ageu Sateré, 16, parou de estudar devido às agressões que sofria ao passar por uma favela vizinha quando se dirigia à escola.
Serejo disse que já visitou o local para resolver conflitos envolvendo os índios e seus vizinhos.
A Funai intermediou também um acordo entre os índios e os moradores do condomínio Santos Dumont, por causa da ocupação ilegal da área destinada ao bosque.

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