São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Estudante nega ter sido forçada a abortar

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante de direito Valéria Tereza Correia, 20, negou, em entrevista exclusiva à Folha na última sexta-feira, que seu pai, o advogado Marco Antônio Batista Correia, tenha tentado forçá-la a fazer um aborto.
Correia e três médicos foram presos na terça-feira sob a acusação de prática ilegal de aborto. Foram libertados dois dias depois após pagar fiança.
Valéria, grávida de três meses do namorado, disse que foi ``iludida pela polícia".
``Quando fui ao 15º DP, estava transtornada e queria que os policiais investigassem se no local onde meu pai ia me levar funcionava uma clínica de aborto. A polícia me garantiu que nada ia acontecer a meu pai", afirmou.
Procurados por telefone no 15º DP (Itaim Bibi, zona sul) na sexta à noite, o delegado titular João Lopes Filho e o delegado assistente José Eduardo Jorge não foram localizados. No dia da prisão, a polícia informou que o grupo estava no local para fazer o aborto.
A seguir, trechos da entrevista de Valéria, que não concordou em ser fotografada. Também participaram da conversa o comerciante Márcio Peçanha Souza, 26, namorado da estudante, e Antonio Ruiz, 32, advogado da família.

Folha - Como começaram os problemas entre você e seu pai?
Valéria - Tudo começou quando conheci o Márcio e contei a meus pais que ele tinha sido casado. (Márcio não vive mais com a ex-mulher, mas não é separado judicialmente). Depois de um ano e meio de namoro, eu falei para meus pais que estava grávida. Eles ficaram muito abalados.
Folha - Como você se sentiu?
Valéria - Eu estava perturbada. Quando eu contei para o meu pai, ele ficou extremamente nervoso. Ele me disse: ``Qualquer coisa, você tira o filho". E eu fiquei com aquilo na cabeça porque meu pai ficou dois dias sem sair do quarto.
Folha - Como surgiu a idéia de ir ao consultório do médico Ithamar Simões Oliveira?
Valéria - Meu pai soube que eu estava indo em uma médica de convênio. Ele falou que ia me levar em um médico particular, o que me deixou mais assustada. Eu estava sentindo muitas cólicas e enjôos da gravidez. Ele quis me levar no médico no sábado. Então indicaram o doutor Ithamar.
Folha - Como foi a consulta?
Valéria - Ele me pediu exames e que levasse o resultado na terça.
Folha - Na segunda você foi ao 15º DP. O que você disse lá?
Valéria - Pensava que meu pai queria que eu fizesse um aborto, mas depois eu percebi que não era.
Folha - Como aconteceu a prisão?
Valéria - Eu estava no banheiro, meu pai na sala de espera e o médico na sala dele.
Folha - Você não imaginou que seu pai pudesse ser preso?
Valéria - Eu fui até a polícia para pedir para verificar se no local havia uma clínica de aborto e não para montar um flagrante.
Folha - E depois da prisão? O que aconteceu?
Valéria - Meu pai perguntou o que tinha acontecido. Eu disse que achava que era aborto. Ele disse: ``De forma alguma. Onde você está com a cabeça?".
Folha - E agora que seu pai foi solto?
Valéria - O relacionamento está bem, tanto que nós almoçamos todos juntos hoje: eu, meu pai, minha mãe e o Márcio.
Folha - Você vai continuar morando com seus pais?
Valéria - Vou. Mas eu e o Márcio vamos nos casar.
Folha - Está arrependida?
Valéria - Demais. Nunca imaginei uma situação dessas.

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