São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Nome foi criado por construtores

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O nome e a separação foram criados por arquitetos e construtores atendendo, naturalmente, à demanda da clientela. ``É uma questão de funcionalidade, disciplina e segurança", defende Benjamin Souza Cunha, vice-presidente de condomínio e relações trabalhistas do Secovi, o sindicato da habitação de São Paulo.
Em muitos prédios, um elevador dá para a entrada de serviço do apartamento. O outro -o social- permite acesso à porta da sala. Na concepção dos técnicos, é natural então que os serviçais se utilizem do primeiro.
``O empregado fica mais à vontade no elevador de serviço", diz Cunha. E a segurança e privacidade são preservadas. ``Não se pode abrir o elevador social a todos os prestadores de serviço que entram no prédio."
Citando dados da polícia, Cunha diz que o número de assaltos a apartamento vem aumentando em São Paulo. O elevador seria uma das entradas vulneráveis.
``Estamos distinguindo usos, não pessoas", afirma.
O arquiteto Davison Becato diz que a separação de elevadores é uma tradição brasileira que remonta aos tempos da casa grande e da senzala. ``Os senhores utilizavam uma entrada, os escravos, outra."
Ao longo dos anos, a prática evoluiu para as edículas das casas térreas -onde ficam os equipamentos de serviço e dorme a empregada- e para a divisão de elevadores nos prédios residenciais.
Becato -que é secretário-geral do Instituto dos Arquitetos do Brasil- lembra que nas casas dos imigrantes europeus não há duas entradas. ``Todos entram pela mesma porta."
Não significa que ele critique a separação de elevadores. ``Dependendo do projeto, a divisão pode se justificar pela praticidade. Jamais pela separação das pessoas."
Arquitetos e construtores concordam em um ponto: a tendência nas novas construções é manter elevadores separados porque os compradores querem assim.
``A vereadora Aldaíza poderia apresentar um projeto de maior interesse social", diz Cunha.
Para a advogada Maria da Penha Guimarães, discriminar o uso de elevadores é ``obstaculizar um direito constitucional que é o de ir e vir". Maria da Penha é coordenadora da subcomissão do negro da Ordem dos Advogados de São Paulo. Segundo ela, as assembléias de condôminos não podem ``decidir acima da lei".``A separação de elevadores é a manifestação de um preconceito."
Cerca de 90% das empregadas domésticas de São Paulo são negras ou mulatas. (Aureliano Biancarelli)

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